Patroa ou mulher?

Gosto dos livros da Martha Medeiros, especialmente das crônicas.

Dou gargalhada na leitura de algumas delas.

A linguagem da escritora é simples e feminista sem exageros teóricos.

Ontem à noite detive-me numa crônica do seu livro NON STOP: a mulher e a patroa.

Já escrevi alguma coisa sobre ser mulher e ser patroa, mas senti vontade de retomar o assunto após a leitura.

Não é fácil ser mulher na sociedade que estamos inseridas, especialmente para mulheres da minha geração.

Fomos educadas para ser patroas.

Mesmo sendo independentes financeiramente, conhecedoras do desastre que o “ser patroa” pode provocar numa relação, caminhamos quase que no automático: acabamos sendo mesmo patroas.

É realmente uma arte conseguirmos nos livrar desse estigma social delegado a nós mulheres: servir.

Temos que servir, e não apenas isso, temos que ser subservientes.

Particularmente tenho uma dificuldade enorme se não ocupo esse lugar: a patroa.

Ao mesmo tempo detesto admiti-lo.

Quando penso nas relações que vivenciei, na forma que aconteceram e terminaram sinto-me patroa.

Fui patroa.

Não apenas, mas quase sempre.

Tenho um instinto maternal enraizado, difícil de ser alterado e não acho que é meu.

Não nasci assim.

A hipócrita sociedade que fui inserida, o contexto em que fui educada fez-me patroa.

Fui patroa apesar de me auto sustentar, da liberdade sexual conquistada, do rompimento com os padrões todos.

Ousei profissionalmente, intelectualmente e afetivamente.

Mas fui patroa.

Hoje, consciente das patroas que fui e vivenciei, escolho não ser mais patroa.

Serei apenas mulher.

Livre, sensível, inteira.

Recuso meu passado incoerente.

Abandono a culpa e a educação impostas.

Opto por ser mulher.

Apenas mulher...