Asas de sonhar
Um dia, havia um lindo pássaro, de penas coloridas, de olhos flamejantes e com asas que lhe rendiam o sonho de grandes vôos...
A floresta em que habitava, possuía lugares iluminados e cheio de belas paisagens, outros eram sombrios, escuros e com sons aterrorizantes. Não temia o que tivesse que enfrentar, pois o pássaro sonhava em aventurar-se pelo mundo, saborear montanhas, mares e banhar-se na umidade das nuvens que conhecia apenas com seu olhar sob a imensidão do horizonte.
Num dia ensolarado, deparou-se com uma bela figura, pomposa, séria e deveras sedutora. Não se apercebeu das armas que a tal figura carregava, muito menos que a bela imitação de pássaros que saía de sua boca e que lhe fazia sonhar, era fruto da experiência de um caçador. Sentiu-se hipnotizado. E assim, voou para dentro de uma velha gaiola, sem contanto, aperceber-se do lugar que lhe estava sendo reservado.
Os dias foram passando e o pássaro ia estranhando a ausência da figura, já não escutava nenhum som musical, apenas uma voz a zombar de suas penas desbotadas e de suas asas quebradas...
Tornou-se triste, solitário e esqueceu os sonhos de voar pela imensidão do horizonte e conhecer outras paragens. Perdeu-se de si mesmo e já não se sentia pássaro, não mais cantava e nem ousava abrir suas asas.
Os dias perduraram na solidão da gaiola sem cor, sem enfeites, sem alimento. Ia definhando o apenado pássaro...
Porém, um dia, dos tantos que vivera enclausurado num canto qualquer, percebeu uma fresta de luz. E seguindo sua direção, deparou-se com um espelho que refletia sua triste prisão. Tamanho foi a surpresa que num gesto impensado, abriu as asas. Para seu espanto, observou que não estavam quebradas, que suas penas, embora um tanto desbotadas, ainda restava aqui e ali, alguma cor do que antes fora bela plumagem...
Espantou-se mais ainda com o lugar onde vivera por tanto tempo, uma horripilante gaiola! Contudo, percebeu que a armação que sustentava sua prisão era frágil e passível de ser rompida...
Vislumbrou o brilho que retornava aos seus olhos, agora decididos...
Abriu as asas, bicou a armadura, o suficiente para que pudesse deixar para trás sua triste realidade.
Qual não foi seu espanto! Suas asas permaneciam fortes e prontas a alçar novos vôos...
Hoje, o pássaro canta feliz, sobrevoando montanhas, passeando com o vento sobre os mares do mundo, encantando-se com a diversidade de cores, de cheiros, de formas, com a beleza de mares bravios ou serenos.
A nuvem, o pássaro ainda não alcançou, mas não tem pressa, existe tanto a descobrir, tanto a experimentar...
Sua nuvem o espera, para banhar-lhe as asas abertas a refrescar-lhe a alma feliz!