Desnaturalização ou Desoriginalização?

Assim como o natural pode ser desnaturalizado o original também pode ser desoriginalizado tanto pela força da natureza quanto pela interferência do homem. O rio Capibaribe, aquele que fez a cidade do Recife tornar-se conhecida como “A Veneza Brasileira”, há muito tempo foi descapibarizado. Ainda era jovem, quando ali fiz um passeio fluvial, contemplando a beleza da nossa Veneza e o guia nos dizia bem rapidamente: “o rio Capibaribe foi descapibarizado, quem descapibarizou foi o descapibarizador”. Não havia ainda tanta poluição como hoje, mas o guia já nos advertia sobre a proximidade de acabar com aquele agradável passeio.

Passando agora para o rio São Francisco, lembro ainda que antes da barragem do Moxotó, na confluência de Pernambuco, Alagoas e Bahia, a cachoeira de Paulo Afonso tinha uma das mais belas quedas d’água conhecida como “o véu da noiva”. Agora esse fenômeno só ocorre quando as comportas são abertas, por ocasião das grandes enchentes do São Francisco. Por outro lado, a barragem do Xingó, na divisa de Alagoas e Sergipe, proporcionou um agradável passeio pelo Canyon do São Francisco, hoje considerado o maior canyon navegável do mundo, graças ao nivelamento das águas, onde antes existia uma série de cachoeiras.

Assim, melhor que treinar a sua pronúncia para dizer depressa e corretamente que “o original nunca se desoriginalizará” é vir ver in-loco que o original foi desoriginalizado e transformou-se num grande espetáculo da natureza, fazendo com que o turismo não fique restrito ao litoral, com as suas belas praias, mas também aos encantos do nosso rio São Francisco, o rio da unidade nacional, ou mais conhecido por nós como “O Velho Chico”.