Apenas uma crônica

Minha rua já era movimentada, pois moro no centro da cidade, mas piorou. Por causa de obras feitas aos arredores, o fluxo do trânsito foi desviado todo pra cá, então, o que era ruim está bem ruim. Mesmo antes de todo esse caos, o barulho dos carros têm me incomodado um pouco. Acho que é a idade. Quando era adolescente achava graça dos mais velhos reclamando de barulho, eu não entendia como alguém podia ter problemas pra dormir por causa de uma TV ligada, uma música tocando ou outros tipos de sons. A mim, nada afetava. Agora, quando chega às 07:00h da manhã, é carro pra cá, ônibus arrancando pra lá (parece que eles aceleram bem na minha janela só pra eu acordar – levanta preguiçosa) e motos e caminhões e... fora que na madrugada de sábado pra domingo é festa, os carros, ou melhor, os aparelhos de sons com quatro rodas, passam com músicas de gostos duvidosos convidando a todos a saírem das suas camas. É, nunca tinha pensado desta forma, vai ver é isso. Antes eu pensava que era falta de educação.

Lembrei-me de uma história contada por um professor muito querido de Literatura. No prédio dele existe uma senhora de setenta anos que ficou doente e teve de ser cuidada por sua mãe de noventa (vejam só, a mãe de noventa cuidando da de setenta). Para isso, a velhinha ficou um tempo no apartamento da filha. Quando esta já estava indo embora, o meu professor perguntou se ela não sentiria falta de ficar ali, e ela: - Estou louca para voltar para o meu apartamento, quem é que consegue dormir com esse silêncio todo! Detalhe, ela morava ou mora ainda, não sei se é viva, numa avenida super movimentada de Porto Alegre. Chamou um táxi de cor indefinida e foi embora bem feliz.

Falando em cor de táxi, eu gostaria de saber quem teve a infeliz ideia de escolher a cor do táxi de Porto Alegre, hein? Se alguém souber, me avise. Pra quem não conhece, vou tentar explicar a cor que eu enxergo, é uma cor de laranja bem escura, tipo uma cor de cenoura, num tom escuro. Tem gente que jura que é vermelho claro, dá até discussão. Por que facilitar as coisas, não é? Quem sabe um vermelho escuro, um azul-marinho, ou mesmo um branquinho básico. Não, tinha que ser uma cor estranha que quando alguém de fora viesse andar num desses táxis, nunca mais iria esquecer-se de que andou em Porto Alegre. Deve ser uma jogada de marketing.

Essa maneira de cada um enxergar as cores, me fez lembrar uma última história, bem mais meiga. Segundo uma amiga, a sua professora fazia estudos pedagógicos com crianças pequenas e numa dessas pesquisas pediu para uma menina de seis anos, enquanto ela observava um livro com uma casa cor-de-rosa, descrever como ela enxergava a cor rosa. A menina disse: - “Rosa é tipo, um vermelho bem devagarzinho...” Existe algo mais poético?!

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