Sinfonia nº 2 de Brahms

Não tenho mais nada a fazer em tua casa, a não ser ligar a vitrola para ouvir a Sinfonia nº 2 de Brahms, que tantas vezes ouvimos juntos, quando fazíamos projetos silenciosos de uma vida em comum; você não entendia nada do que eu não dizia, e eu entendia muito menos do que você não falava; verdadeiramente, poderíamos chamar de diálogos de surdos, mudos e ainda de manetas, pois, nem mímica ou esgares. Sempre o silêncio se tornava enfático, os projetos erráticos e Brahms cada vez mais vibrante nos 1º, 2º, 3º e 4º movimentos. Não há direito a bis, e não me refiro à segunda sinfonia, mas a nós mesmos...Nada me resta a fazer em tua casa, se bem me explico, pois, apenas não me cansei de Brahms, mas cansei das intermináveis conversas com as características que citei; és bem capaz de dizer, a quem perguntar por mim, que te fazem falta os assuntos que debatíamos em nossas vigílias e tertúlias; és capaz de, por ingratidão, não fazeres a menor referência ao compositor, a quem acusavas com paixão, de ter seduzido Clara Schumann; não faço a menor idéia, do que pensa disso Enrique Batiz, ou mesmo, se era cúmplice de Brahms, pois, que outro motivo teria para reger a citada Sinfonia e colocar nela toda sua alma? É possível, também, que tenha sido por cumplicidade conosco; de qualquer modo, deixo-te um abraço, adeus!

Abrantes Junior
Enviado por Abrantes Junior em 14/07/2009
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