Imagem: Banquete dos Deuses - Bellini
Música: Aria - Bach

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Alzheimer: família, trabalho e amor
 
Há tempo atrás, recebi um convite para proferir uma palestra em um congresso de clubes da terceira idade. Quando abri o convite senti um frio estranho, pois o tema era Doença de Alzheimer. Liguei para a organizadora do evento e perguntei se o tema era aquele mesmo e ela disse: “claro, eles querem que o senhor fale de sua experiência profissional de mais de vinte anos no atendimento a esse tipo de pacientes”.

 Falar de Alzheimer para uma platéia de pessoas, que na sua maioria, já ultrapassaram a barreira dos sessenta e cinco anos não fácil. Com o passar dos anos nos tornamos candidatos em potencial para a doença, devido ao fato que nos dias de hoje, cinquenta por cento dos indivíduos acima de noventa anos possuem sinais e sintomas da doença.

Levei um bom tempo no preparo da palestra, não queria falar de decadência para indivíduos que já experimentavam algum grau de declínio. Por outro lado, eu não podia fugir da realidade e vender falsas ilusões.

Iniciei com o lema “nunca é tarde para prevenir”. Em seguida, falei que as pessoas têm necessidades de conhecer bem o assunto e discorri sobre perda progressiva da memória e as diversas fases da doença. É próprio do ser humano temer o desconhecido, uma vez conhecido o problema é mais fácil estabelecer estratégias para superar as dificuldades. Dificilmente os dois cônjuges são acometidos ao mesmo tempo. Quando um é acometido e o outro é saudável, o saudável conhecendo bem as particularidades da doença cuidará melhor de sua amada ou de seu amado.

Por fim, dissertei sobre valores próprios do ser humano, aqueles que persistem no evaporar da mente. Na demência de Alzheimer, a memória recente é a primeira a ser comprometida e a tardia, a última a se apagar. Dentro da memória tardia, dois grandes valores são os últimos a serem extintos: a família e o trabalho. O interessante é que a família que permanece viva na memória é a de origem, ou seja, pai, mãe e irmãos. Quanto ao trabalho o curioso é que aquilo que fica não sãos os troféus recebidos e sim as dificuldades do inicio da carreira.

No terço final da palestra dei-me conta que não falava apenas de uma temida doença. Falava, também, de valores tão fortes da vida que nem mesmo uma doença, que faz minar a memória, é capaz de apagá-los. A família existe antes mesmo da concepção e do nascimento e não se acabará com a morte. Dentro da família aprende-se o exercício do amor. Quanto ao trabalho, ele não é apenas a fonte de subsistência, ele é o maior instrumento de busca da felicidade.

Uma pessoa com demência de Alzheimer ou tipo Alzheimer vai perdendo gradativamente a capacidade física e a memória. Apesar desse declínio a pessoa acometida, jamais, perderá a capacidade de receber o mais belo e o mais nobre de todos os sentimentos: o amor.
Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 14/07/2009
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