NAÇÃO BRASILEIRA???

Sem levar em conta as complexas acepções filosóficas, jurídicas e sociológicas para explicar a palavra Estado, vamos utilizar de forma generalizada a definição segundo o cientista político G. Jellinek, de que o Estado “é a corporação de um povo, assentada em um determinado território e dotada de um poder originário de mando”. Já o termo nação, de mais fácil explicação, podemos definir como sendo uma comunidade de pessoas que compartilham um destino comum; é um povo capaz de se unir solidariamente para organizar a própria vida social na forma de um Estado. Um país só pode ser forte e vigoroso quando tiver uma nação coesa e um Estado capaz, ou seja, somente um Estado-nação com essas qualidades poderá ser próspero. Aqui na “terra brasilis”, infelizmente, o Estado sempre foi mais forte que a nação, mesmo com os “avanços” a partir da década de 80.

O Brasil, para crescer, precisa se solidificar como uma nação, fazer um pacto nacional para o fortalecimento de nossas bases culturais, sim eu disse culturais, pois um povo que não tem sua cultura bem definida, não valoriza suas origens, dificilmente conseguirá se unir em um propósito coletivo único, traçando o próprio destino sem se deixar guiar pelas nações mais poderosas.

No Brasil, como nos demais países da América Latina, a idéia de nação é hoje muito frágil. O pouco de nação que existia por “essas bandas de cá” antes da chegada dos portugueses e espanhóis, foram praticamente exterminadas e, a partir de suas “independências”, criaram-se Estados, sem antes solidificar suas nações, o inverso do que ocorreu nos E.U.A.

Não há que se falar em desenvolvimento sem autonomia nacional, o que na realidade não ocorre por aqui desde os tempos de Cabral. A coisa, como se diz popularmente, virou um “banzé”, ou seja, um “cabaré de cego”. De um lado temos partidos políticos que se dizem de esquerda mas agem como partidos de centro, e partidos de direita que agem sob filosofias socialistas; para completar, ainda “instituíram” de forma descarada a corrupção política que dilacera nossa identidade moral. Uma coisa é certa: a democracia está se solidificando, mas o preço que estamos pagando é muito alto, e o mais grave de tudo é que entra presidente e sai presidente e, nenhum, veja bem, nenhum candidato a presidência da república desde a queda do regime militar, propôs uma definição consensual de uma estratégia nacional de desenvolvimento. Enquanto isso, os estatudinenses batem palmas, pois com “esquerdas assim”, aliadas a incapacidade administrativa de um planejamento de médio a longo prazo de seus líderes políticos, é “mamão com açúcar” ou melhor, “sopa de minhoca” para continuar com a América Latina sob seus pés.

*Publicado pelo autor no Jornal Chico em 19.01.2006. Para ler mais textos do autor acesse: http://www.webartrigo.com/