Justiça injusta

Considerando que a mídia geralmente é parcial principalmente quando o assunto, mesmo sério, tem um mote para sensacionalismo, quase não há como escapar de sentir certa revolta ao ver serem presos os pais de uma menina que caiu de um apartamento do quinto andar de um prédio no Rio de Janeiro. Parece obvio o caráter fatalista do caso. Não obstante, eles estão presos, não bastasse o sofrimento da perda da filha. A comparação com a impunidade na maioria dos crimes com a lentidão, as brechas dadas a recursos, a benevolência que desafia o senso comum em um sem número de casos é inevitável. A lista dos que não estão presos por terem alto poder aquisitivo e, portanto, obterem os tais recursos por pertencerem a grupos engajados no poder e terem legislado visando seus próprios crimes futuros, além das punições pífias, quando há condenação.

Isso passa o sentimento de que a justiça é injusta. Que trata os casos em descompasso com os interesses da sociedade, cuja lei se baseia num sei lá o quê que a criou, agravado por interpretações jurídicas ora ortodoxas (como no caso acima) ou negligente, insuficiente, incentivadora do crime. Certamente um trabalho investigativo de qualidade por parte da polícia reduziria essas incidências, porém não é o que vemos. Ao lado de reformas político administrativas, a reforma do código penal é um clamor não ouvido pelo poder público cujos legisladores têm demonstrado preocupação prioritária com a preservação de sua própria continuidade vinculadas a seus interesses. Diante de tantos indicadores desastrosos parece não haver nenhum acontecimento ou situação que destrave a inércia do poder público para elevar a cidadania pelo menos ao nível da economia brasileira.