Meu emprego - meu salário

Em um dos meus livros lançado em Araras – A Filosofia do Paraíso – estive fazendo conjeturas sobre os porquês de haver grande massa de desempregados espalhados pelo mundo e, conforme pode ser constatado, procurei deixar o mais claro possível que o responsável maior por esse grande problema é o próprio trabalhador desempregado, porque tudo é uma questão de mérito de cada um e, vejam, devido a muitas atitudes negativas daqueles que estão trabalhando, a tendência é as pessoas cada vez mais criarem deméritos que venham a lhes provocar o desemprego. Façamos uma retrospectiva dessas formas negativas, que grassam em todo o mundo profissional – o empregado normalmente se acha autossuficiente o bastante para merecer o trabalho que esteja exercendo e que ele “é bom nisso”, logo ele sempre crê que deve ser reconhecido, porque pensa que trabalha mais do que ganha – em muitos casos, acaba até por se esquecer de agradecer a Deus a graça de estar trabalhando, o que é muito grave.

Outro grande problema nas relações entre patrões e empregados é a obsessão que os trabalhadores têm com relação aos seus direitos, esquecendo-se de que aos direitos se contrapõem as obrigações – é uma via de duas mãos, ou seja, para haver uma remuneração devida, um trabalho deve ter sido executado, tudo dentro de um acordo contratual; há sempre nesses casos a influência danosa dos sindicalistas, insuflando os ânimos dos profissionais, mostrando que devem combater a “opressão capitalista”, que usa do poder patronal para “escravizar” a classe operária. Outra agravante está na preguiça do trabalhador em se aprimorar, mantendo-se na mesmice em seus conhecimentos técnicos, e depois quer assumir cargos superiores e assim pleiteia maiores salários, pensando ser “mais” merecedor da atenção dos patrões do que os seus colegas. Muitos acham ser possível crescerem profissionalmente, às custas de “puxarem o tapete” de alguém, ou então usarem o recurso da bajulação (“puxar o saco”) com os superiores que, se forem medíocres, acabará dando em resultado favorável, temporariamente, até que algo provoque o retorno negativo, como resposta.

Muita gente se esquece de que o vínculo empregatício nasce de um contrato bilateral entre o patrão e o empregado, onde este se propõe a executar serviços determinados, mediante o pagamento em dinheiro, somado a uma série de benefícios adicionais, criados por lei. Não é um contrato de benemerência ou de ajuda a qualquer uma das partes, mas sim de uma condição de sobrevivência tanto empresarial como empregatícia, através da troca de interesses mútuos, para a garantia do crescimento econômico e social.

Há alguns anos, após enfrentar uma fila quilométrica dentro do banco durante uma hora e meia, até chegar a minha vez no caixa, deparei com um jovem atendente que se encontrava em estado de estresse já em último grau, queixando-se, em alta voz, por estar assoberbado de serviço, devido ao número muito grande de clientes a serem atendidos. O rapaz estava chegando no limite entre as queixas e os impropérios, atendendo às pessoas como se tratassem de um bando de macacos. A essa altura dos acontecimentos resolvi fazer uma preleção ao pobre caixa, chamando-o à realidade, da seguinte maneira: “Meu amigo, você está prestes a ter um infarto! Por acaso você tem outro tipo de sobrevivência, além do seu emprego? Se este for o seu ganha-pão, agradeça a Deus por ele, do fundo do coração, e depois levante as mãos pro céu pelo fato do banco estar tão cheio. Já pensou onde você estaria hoje, caso o seu trabalho não fosse tão requisitado? São esses clientes em profusão que lhe garantem o salário do fim do mês. Uma instituição bancária não tem nada a ver com benemerência, portanto ela o mantém trabalhando porque há a necessidade de haver atendentes no caixa, com isso você passa a ser indispensável, mas não insubstituível, ainda mais que o mercado de trabalho está complicado e há muita mão-de-obra disponível”. O interessante é que ele me ouviu com atenção, acalmou-se e agradeceu!

O cultivo do bom senso sempre foi o melhor caminho para a descomplicação.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 16/07/2009
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