A GRANDE DESCOBERTA DA MINHA VIDA

Foi por causa da canção dela. A princípio, eu não notei.

Não havia razões para tal. As circunstâncias eram corriqueiras. Um pai buscando a filha para passear. Luiza ama os presentes que ganha. Ela apareceu, e me mostrou seu novo celular e ligara sua música preferida, e eu voltara minha atenção para outros assuntos.

Porém mal colocara os pés no labirinto do raciocínio, tive que retornar. Luiza estava cantando, cantando, cantando.Cabeça para trás, queixo erguido, e pulmão cheio, ela inundava a sala com a música. Esta é a minha filha? Cantava como se fosse mais velha. Parecia mais velha, mais alta, e mesmo mais bonita. Por onde andara eu? O que acontecera às bochechas redondas? O que acontecera com o rostinho e os dedos gorduchos? Ela estava se tornando uma mocinha. O cabelo castanho descia-lhe pelos ombros. Os pés crescera. Nalgum lugar, durante a noite, uma página havia sido virada e, olhem para ela!

Se você é pai, ou mãe, sabe do que estou falando. Ontem, as fraldas, hoje as chaves do carro? Daqui a pouco estará indo para a faculdade, e você desperdiçando chances de mostrar-lhe amor. Então você fala. Foi o que fiz. A canção parou, e Luiza também. Então, pus-lhe a mão no ombro, e confessei:

- Luiza, você está um tanto especial.

Ela voltou-se e sorriu tolerantemente.

- Um dia, algum rapaz de pernas cabeludas irá arrebatar-

lhe o coração e transporta-la para o próximo século. Mas por enquanto, você pertence a mim.

Ela inclinou a cabeça, olhou para fora por um instante, e então voltou a olhar-me e perguntou:

- Pai, por que você está sendo tão esquisito?

Supus que tais palavras soassem estranhas a uma garotinha . O amor de pai pode cair de modo embaraçoso nos ouvidos do filho. Minha explosão de emoções foi além da compreensão de Luiza. Contudo, isso não me impediu de falar.

-Filha, eu te amo.

Luiz Almeida
Enviado por Luiz Almeida em 06/06/2006
Reeditado em 06/06/2006
Código do texto: T170548