NA ROÇA - II

 

    Diz um ditado que eu escuto desde os meus tempos de criança, que o “peixe morre pela boca !”. Se não tomar cuidado, o homem também !

    O café da manhã na roça é bem diferente do que estava acostumado na cidade. Nem em alguns hotéis em que já estive hospedado tem como comparar. Primeiro começa pelo café.

   Coado em coador de pano diretamente num enorme bule , aquecido num fogão à lenha e com grãos colhidos no próprio quintal. Francamente, não existe nada parecido !

    Imagine você ter uma noite de sono maravilhosa, embalada pelo som dos grilos e sapos na maior farra e despertar com os raios do sol penetrando pelas frestas da sua janela.

   Imagine você sair do seu quarto e ouvir a conversa enrolada de um papagaio agitado e resmungão , já naquela hora da manhã.

    Agora imagine uma mesa forrada com uma toalha xadrez, tendo bem no meio uma travessa com várias fatias de bolo de milho, outra com aipim cozido, um pequeno pote de barro com mel, pães caseiros, rosquinhas marrons que me disseram que tinha sido feita com pasta de amendoim e aquele cheiroso queijo minas ! Não tinha como resistir !

    Isso sem contar aquele suco de manga simplesmente divino, inigualável e de uma doçura que dispensava o açúcar industrial. Amigos, realmente o peixe e o homem morrem pela boca !

     Lembro-me de que quando era criança uma de minhas diversões prediletas era ficar olhando para o céu tentando adivinhar as figuras que os nuvens formavam.

    Não tenho como explicar ou justificar mas a grande verdade é que as manhãs na roça são diferentes das manhãs na cidade grande. O céu é mais azul, as nuvens parecem grossos rolos de algodão, a brisa suave trás sempre o perfume das flores, da grama e do esterco do gado.

    Não resisti a tentação e tirando o tênis, caminhei descalço por uma alameda formada por uma grama miúda, ainda molhada do orvalho matinal. .

    Sentei-me no tronco de uma árvore que estava cortado e que mais tarde seria dividido em pequenas toras e fiquei olhando para as nuvens. Podem não acreditar e não vou me importar se acharem engraçado mas as nuvens formavam vários desenhos e entre eles, com toda clareza e brancura pude perceber copinhos de sorvete, borboletas, caras de palhaços , bolas e algumas frutas.

    É claro que descontraído, relaxado e com a imaginação solta, pude enxergar naquele amontoado de nuvens os desenhos que já citei.

    A paz era absoluta, o único ruído que chegava aos meus ouvidos era o cantar dos pássaros que voavam em busca do primeiro alimento da manhã e das gargalhadas da dona Maria. , cozinheira da casa.

   A dona Maria é uma figura interessante. É mulata, cabelos grisalhos e faz questão de dizer que é gorda e não obesa. Riso fácil e uma gargalhada sonora e estrondosa que contagia a todos, a Dona Maria é o tipo de plateia ideal para estimular qualquer comediante que conta piadas sem graça num teatro vazio.

   Depois de ficar longo tempo me deliciando com aquela paisagem e sentindo aquele cheiro gostoso de roça, olhei para a grama ao meu lado e vi uma interminável fileira de enormes formigas que transportavam retalhos de folhas.

    Como se fossem um exército disciplinado e bem treinado as formigas, em fila indiana, se dirigiam a uma enorme toca onde eram recepcionadas por outras formigas um pouco maiores. Tais formigas me lembravam os seguranças de um prédio oficial, desses que pedem sua carteira de identidade para permitir sua entrada no recinto.

    Achei engraçada a minha comparação. Formigas sentinelas exigindo documentação de formigas operarias para entrar na toca trazendo alimento ! Só mesmo quem não tinha nada melhor a fazer poderia imaginar uma situação assim.

   O dia estava lindo e apesar de ainda ser cedo, os raios do sol já prometiam que a temperatura iria subir. Não fazia a menor ideia das horas e nem queria saber. Tinha deixado meu relógio e o celular em casa . Num paraíso daqueles, pra quê se preocupar com as horas ?

    Resolvi fazer uma caminhada por entre os arvoredos, alguns deles carregados de frutas coloridas. Caminhando despreocupadamente, olhando para todos os lados como se não quisesse perder nada do que aquele espetáculo divino me proporcionava , vi borboletas coloridas voando em bandos, bailando no ar como se estivessem se exibindo para uma platéia invisível. Lindo, muito lindo ! Borboletas, pássaros, flores, frutas, como eu gostaria de saber pintar ! ........




                              .....continua.....




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(.....imagem google.....)

 

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 18/07/2009
Reeditado em 16/02/2013
Código do texto: T1706032
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