Quando Uma Amizade é Verdadeira


Não mais do que uma semana atrás estava eu a conversar com um estranho conhecido meu. Fazia tempo que não nos víamos, para falar a verdade nunca fomos próximos, contudo, ele carregava uma mágoa adormecida na voz, um tom dolorido que me fez parar e perguntar – não apenas por cortesia, querendo realmente ouvir – “Você está bem?”.
 
Começou ele a divagar sobre a canção “A Lista” do Oswaldo Montenegro – uma de minhas preferidas – e de como o tempo havia passado, como os amigos que tinha aos 14 anos mal cumprimenta, como a vida toma um rumo determinado, surpreendendo não apenas aos outros, mas a nós mesmos.

Relatou mais várias aflições que costumamos cogitar naquelas madrugadas longas e silenciosas, e seguiu contando sobre  este homem que conhecia desde os 07 anos de idade, da forma como viviam juntos mesmo quando escolheram cursos diferentes na faculdade, mas que há poucos dias sumiu de sua vida sem precedentes de voltar. Não houve brigas, não houve motivos, simplesmente virou as costas e sumiu, como se uma amizade nunca tivesse povoado os dois.

Conversamos mais um tanto, tomamos um café e nos despedimos. Não consegui dizer adeus, no entanto, as suas palavras.  Afinal, quando uma amizade é verdadeira?
 
Partindo da premissa de que a existência terrena é formada de ciclos, havendo sempre uma despedida a ser dada, brota um desconforto natural, já que tendemos a confundir o conceito de eterno, com o de verdadeiro. Não sendo passível que um seja pressuposto para o outro, idem. Pois que, enquanto podemos ter um amigo que dure o tempo de um verão capaz de nos moldar para melhor, ajudar sem julgar e viver de forma plena este cargo; Podemos experimentar de uma vida inteira de falsidades acobertadas pela égide de algo tão precioso quanto uma amizade.
 
Todos já passamos por grandes decepções, confiamos em quem parecia ser honesto, entregamos o coração aos desligados e perdemos, fomos ignorados por quem sempre jurou estar ali, ao lado. Eu mesma poderia citar diversas situações em que vi a máscara cair e dar-me conta do que é real e do que é ilusão. Não falo de algo como o esquecer de um aniversário, de uma injustiça cometida ou de desavenças sanáveis. Mas sim, do interesse embutido por detrás desta aparente amizade, como nos exemplos:
- Se torce pelo mesmo time, somos amigos;
- Se está solteira e eu estou solteira, Sou amiga. No instante que cesso esta condição, acabou o seu espaço aqui;
- Enquanto o seu dinheiro, o seu nome, o seu conhecimento servirem-me, eis aqui o meu coração de amigo; Etc.
Incrível como situações como estas são a regra, quando deveriam morar na exceção!
 
Todavia, este esforço compensa no instante em que nos deparamos com a dedicação verdadeira. Aquela que nasce de modo inesperado, vai aumentando, esquecendo das diferenças, trazendo o sorriso, colocando nossos pés no chão, sabendo criticar, sabendo ensinar e não mais exigindo do que o carinho mútuo. 

Sempre tive para mim que uma das primeiras formas de amor - e provavelmente uma das mais bonitas - com que temos a felicidade de cruzar é a Amizade. Quer saber quando ela é verdadeira? Fácil! É só sentir e perceber que, antes mesmo de chamar, seu amigo já vai estar ali.

Graças ao bom Pai tenho tido sorte neste quesito, pois, em que pese tenha enfrentado sérias desilusões, também encontrei pessoas maravilhosas em minha vida: Algumas esbarro diariamente, Outras me acompanham desde pequena e sei que mesmo longe posso contar com elas para uma vida toda; Há aquelas que passaram deixando sua marca para o sempre; E outras, ainda, já nasceram a milhares de quilômetros de distância e nem por isto menos queridas.

Assim, neste Dia do Amigo, quero deixar aqui esta pequena homenagem a todas estas pessoas, presentes divinos, que fazem/fizeram/fazerão parte da minha vida. Obrigada por existirem!


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* Fotografia Tirada Por Mim*

Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 20/07/2009
Reeditado em 20/07/2009
Código do texto: T1709377
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