MINHA REALIZAÇÃO COMO CORDELISTA!

Para qualquer ator, a sua realização profissional é o reconhecimento pelo povo quando ele anda nas ruas ou quando a crítica o elogia em seus trabalhos. Para um jogador, acredito que sua realização aconteça quando ele sai de campo aplaudido pelos torcedores. Para um escritor, eu imagino que sua tão desejada realização é encontrar algum leitor que cite trechos de suas obras ou comente sobre elas. Já para um poeta, esse objetivo é alcançado quando alguém recita um poema seu.

Grandes cordelistas brasileiros, em tempos remotos, tiveram essa felicidade de saber que muita gente decorava, recitava ou cantava seus versos. Assim como, muita gente aprendeu a ler através de folhetos de cordel. Meu pai foi um desses exemplos, pois apesar de estudar até a quarta série primária, quando o ensino público, segundo dizem os mais velhos, tinha mais qualidade, aprendeu a ler mais rápido que seus colegas porque decorava versos de cordel. Eu sempre sonhei um dia encontrar alguém comentando sobre alguma poesia minha.

Em 1989 e 1991, eu publiquei os meus dois primeiros cordéis, “O colorido de Collor que a Globo nunca mostrou” e “A venda de Joca Galego”, respectivamente, dos quais distribui mil exemplares de cada, com os condadenses e alguns amigos do Recife. Mas em Condado, pouquíssima gente falava sobre eles. No entanto, para minha surpresa, mesmo sem ser reconhecido como cordelista em minha terra, eu tive a felicidade de ouvir dois amigos e meus conterrâneos, recitarem glosas de meus cordéis.

Um deles foi Beto Galdino, um jovem filho do meu amigo Manoel Galdino, que há muito tempo faz isso e ainda hoje quando nos encontramos e falamos sobre poesias, recita para mim a primeira glosa do meu segundo cordel:

“Essa história começou

Quando seu Joca nasceu

Mas sua mãe não pensou

No fruto que ela deu

Pois quando Joca nascia

Seu intuito já dizia

Que não ia ter emprego

Ia ser comerciante

E ter futuro brilhante

Na Venda de Joca Galego”.

Beto é apologista há muito tempo e eu lembro bem que, nas vezes em que realizamos cantoria de viola, em minha casa ou na casa do meu pai, ele sempre estava lá, desde sua adolescência.

O segundo foi o meu amigo José Barbosa da Cunha Filho, conhecido como Lourinho Marceneiro, que também sempre esteve presente nessas cantorias. Lourinho de vez em quando, quando a gente tomava umas, declamava uma glosa de um dos meus cordéis. Hoje ele não bebe mais, porém quando nos encontramos, ele ainda me dá o prazer de ouvi-lo recitar a primeira glosa de meu primeiro cordel:

“Quero alertar o povo

Para votar consciente

Porque nem sempre o mais novo

É o melhor para a gente

Pois esse Collor de Mello

Que dizem ser o mais belo

Não é novo no cenário.

E mesmo sendo de chita

Não é gaiola bonita

Que dá comer a canário”.

Esses foram meus primeiros momentos de realização como cordelista e graças aos meus amigos, Beto e Lourinho, eu insisti em escrever e me tornar um poeta popular. Quero aproveitar essa oportunidade para agradecer publicamente aos dois e dizer que fico muito feliz quando os escuto recitando meus versos.