Tive um grande amigo (o maior de todos!) que dizia:
"A amizade é aquele estado de amor que não termina na cama".

Acho engraçado porque, mesmo ele sendo meu maior amigo, com ele fui para cama. E não me arrependi. Com ele casei, tive duas filhas e fomos muito felizes.

Mas, voltando ao "estado de amor que não termina na cama", tenho muitos amigos (com os quais não fui para cama) que foram e são estrelas em meu caminho; bússolas em minha vida.

Sempre achei importante ter um bom amigo, alguém que fosse meu confidente (ele ou ela) que eu pudesse me espelhar e para quem eu me sentisse importante.  No curso primário, ainda menina, tive tres grandes amigas que perduraram pela adolescência até o início da fase adulta: Ideny, Virgínia e Silvia. Depois que vim para o Rio de Janeiro, fui aos poucos perdendo o contato com elas e, hoje em dia, mal sei onde estão. Fiz outros grandes amigos, obviamente, mas essas tres amigas marcaram de forma especial a minha vida numa fase em que ainda estava me descobrindo.

Com a primeira, fui uma verdadeira moleque. Corríamos pelas ruas até à praia, subíamos na goiabeira da vizinha e enchíamos os bolsos de goiaba, soltávamos pipa e ríamos até quase desmaiar por nossas conversas tão bobas e engraçadas. Quando eu estava triste, ela, que tinha lindos olhos castanhos de mel, me dizia quase chorando: Fica triste, não, Marisa, senão eu choro! E eu sabia que ela chorava mesmo, e muito sentida. Para não ver minha amiga chorando, eu dizia: Olha, já passou! Vamos brincar? E depois do abraço de "grandes amigas", saíamos correndo pra goiabeira do vizinho e cantávamos como duas andorinhas. E quando apontava na esquina aquele gatinho que ambas gostávamos, enchíamos cada uma um saco com goiabas madurinhas para ofertá-lo como "prova de amor".  Entregávamos e saíamos dalí sorrindo, correndo,  radiantes de felicidade.  Acho que foi a única amiga que não me importei em  dividir um homem. Com ela eu aprendi que amiga é a irmã que a gente escolhe.  Ideny, que saudades! Eu era tão feliz e não sabia...

Aos  11 anos, conheci uma menina que era toda feminina e coquete. Seu nome era Virgínia e nos tornamos grandes amigas. Fiquei encantada com ela, principalmente quando, ao 12 anos ela passou a usar sutiã. Virgínia não tinha nada de moleque, era uma verdadeira lady, em todos os sentidos. Além disso, era sensata, inteligente e muito madura para sua idade. Na escola, era a primeira da turma e muito popular entre os meninos. E mais: dançava balé, coisa muito rara entre as meninas de minha cidade natal, pois os pais, normalmente, tinham muitos filhos e não tinham recursos para pagar atividades extra-classe.  Mas, Virgínia, dançava balé e isso contribuía para fazer dela uma musa. Era toda elegante em sua forma de andar e tinha um corpo todo harmonioso por causa da dança.  Eu era apaixonada por ela que se tornou minha "ídola". Tomei-a como modelo para meu desabrochar feminino e foi com ela que aprendi a fazer charme e seduzir os meninos. Foi ela quem me apresentou os batons e sombras que comprávamos em tubinhos de várias cores e foi ela quem me ensinou a cantar e dançar igual a Wanderléia.

Virgínia também me ensinou algo muito valioso que não pude jamais esquecer: a demosntração de carinho e amor pelos pais. Não que eu não amasse muito os meus pais mas, em criança, fui daquele tipo... um tanto arisca. Passei a beijar meus pais na saída e na chegada em casa.  No início ele me olharam surpresos e chegaram a cogitar que eu estivesse doente, depois passaram a gostar e retribuíam os abraços e beijos.  Também, com ela, passei a frequentar as missas dominicais. Virgínia foi o tipo de garota que eu chamaria, hoje em dia, de "certinha" e aquele tipo de amizade que todos os pais desejariam pra suas filhas.

Concomitante à Virgínia, tive uma grande amiga chamada Silvia. Esta era uma menina que eu definiria como "resoluta". Imensos olhos verdes e cabelos de espiga de milho, louros, era uma verdadeira artista. Magra , alta e sorridente, parecia saber, exatamente, o que queria, desde cedo. O que eu gostava nela era seu jeito de ser desprendido e muito criativa. Parecia sempre de bem com a vida. Eu sabia que seus pais eram pobres e viviam com muita dificuldade, mas a Silvia, tinha alma de rainha e nunca se queixou de nada. O sorriso estampado no rosto, era sua marca registrada. Podia-se dizer que era uma menina feliz. Seu pai era um designer numa época que ninguém dava valor, e um daqueles artista plástico comuns da Sé de Olinda, Pe.

Silvia tinha muita habilidade para a estética e o desenho e, como consequência, virou arquiteta. O que aprendi com ela? A ter personalidade, a me impor e ser eu mesma..  Silvia não era do tipo que fazia julgamentos ou tinha acessos de moralismo. Tinha uma inteligência vívida e transcendental. Quando lhe impunham alguma ordem ou preconceito ela, simplesmente, questionava e perguntava: "por que?". Dava de ombros e seguia livre como um passarinho.

Hoje li em algum lugar sobre a importância dos amigos e dos relacionamentos. É se relacionando e, principalmente tendo amigos, que a gente tem um feedback sobre nós mesmos. Com esse feedback que os amigos dá, a gente tem a chance de dar um passo a frente e evoluir. Não sei qual foi a importancia que tive pra essas três amigas na infância e adolescência, mas algo me diz que eu também, com meus jeitinho meio ingênuo, moleque e criança de ser, tive uma influência muito grande e positiva sobre elas, pois, sempre estiveram perto de mim naquela época e sempre dispostas a me ajudarem.  Hoje eu sei que também me amaram muito.
Escrevi em algum lugar que laços de amor são aqueles estreitos e firmes e estes, nem a distância, tempo ou a morte vai afrouxar. Obrigada Ideny, Virgínia e Silvia por terem contribuído com meu crescimento e minha evolução. Sem vocês, quem eu seria hoje? Não sei....


FELIZ DIA DO AMIGO