Independência x Matrimônio

O único consolo ao descobrir que aquele primeiro choro que se ouvia do quarto era de uma menina, era que, dali a alguns anos lhe renderia o dote, que talvez compensasse as despesas que aquela criatura iria proporcionar até o casamento.

A vida pré núpcias era fadada a educação matrimonial, a menina era treinada para ser uma esposa “prendada”, submissa e prestativa. E quanto melhor fosse esse treinamento, maiores seriam as chances de se conquistar um bom partido, é claro, dentro do mesmo grupo social em que estava inserida.

Hoje a figura feminina é melhor recebida no seio da família. Nota-se também, que a educação deixou de ser exclusivamente voltada à preparação para o papel de esposa, e ainda mais, esta preparação deixou de ser prioridade. Cada vez mais, a mulher traça metas outrora de caráter masculino: estudar, desenvolver uma profissão, alcançar o sucesso no mercado de trabalho e conquistar o reconhecimento da sociedade.

Contudo, como fica o casamento? Antes escolhidas pela harmonia de melhor preparação matrimonial somada a melhor origem; qual será o critério atual, já que na maioria dos casos nem há essa preparação e muitas vezes o fruto cai longe da árvore? Ainda não descobri. Talvez porque também tenha sido engolida por essa nova cultura, e nunca tenha buscado ser a candidata ideal.

Contudo, o que fica evidente, pela minha curta porém proveitosa experiência, é que os homens repelem essa independência feminina. Admiram sim, podem até amar, mas não as querem como suas companheiras. Provavelmente por medo, por sentirem falta daquela submissão que só é possível pela dependência tanto social como econômica. Por saberem que as mulheres só ficarão ao seu lado por vontade própria, que nada mais as prende, já que a subsistência – nos mais amplos sentidos - está garantida pelo espaço conquistado na sociedade, independente da permanência da união. E que inclusive em relação a valores, esta mesma sociedade que tanto condenou a separação, hoje apóia, trata como natural, porque o princípio da integridade do indivíduo tem mais peso do que o “até que a morte nos separe”.

É, acho que realmente faço parte desta cultura, não dispenso a minha vida para servir como uma esposa das antigas. Sabemos também que conciliar as duas funções não é fácil, talvez nem seja possível. É como a arte de desenhar. Desenhamos como se tivéssemos sete anos de idade, porque naquela época tivemos de parar com o desenvolvimento desta arte para praticarmos a escrita e a leitura. Questão de prioridades. A alfabetização é mais importante do que o desenho, e a independência mais que o matrimônio.