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UM MERGULHO NA SAUDADE
 
E hoje, eu aqui, pensando o mar (penso apenas, pois vivo no asfalto), deixei escapar um suspiro de saudade. Saudade das areias brancas – onde eu caminhava, pelas tardes quentes dos verões de minha juventude primaveril e não pensava no imperdoável tempo, do qual ninguém escapa.
 
Bateu uma saudade de brincar com a maria-farinha, segui-la por alguns metros para descobrir onde ela se esconde. Outro dia li, em uma crônica – daquelas belíssimas – de Zélia Freire, em que ela dizia gostar de observar as “marias-farinha”, correndo na areia quente. Será que a “maria-farinha” de lá é igual a que me encantava nas praias de São Vicente, em minhas constantes escapadas nos finais de semana, para fugir do asfalto – que de certa forma atrai-me até hoje? Seria contradição dizer que gosto do burburinho da cidade grande mas que isso exaspera-me, às vezes? É como uma relação de amor e ódio. Amor bandido!
 
Ao mesmo tempo, anseio pela tranquilidade de uma praia deserta, calma... Eu e o mar azul apenas, na solidão e cumplicidade de nós dois.  Sentir a brisa suave acarinhar o meu rosto, brincar nas ondas, catar conchinhas, feito criança. Depois, deitar-me nas areias brancas, desligar-me de tudo, como se num paraíso estivesse, sair de mim, levitar, ir até o infinito e, quase morrer! E por que não?
 
Quanta saudade eu tenho quando escrevia - com o palito do sorvete chupado - meus versos na areia, depois os apagava com os pés, receosa de que alguém mais pudesse compartilhar daquele momento que era só meu... Outras vezes deixava-os lá, brilhando com o por do sol, para que fossem levados pelas ondas de fim de tarde, quando a maré alcançava a praia e eu me deitava, deixando que quase levassem meus pés mar adentro.
 
Estes momentos sublimes não voltarão jamais, mas tenho a felicidade de tê-los vivido, um dia! E, quem sabe, em outra época, em novo estágio de minha vida em que o tempo transformou-me em outra pessoa, nada impede que eu possa revivê-los. Um dia qualquer, em uma praia deserta e a arrebentação nos espreitando. Escreverei outros versos na areia e apagá-los-ei com os pés ou deixarei que o mar os leve e, quem sabe, a mim também, juntamente com meus sonhos!