Poesia que virou crônica

Nos fins de semana, especialmente nos fins de tarde, gosto de caminhar pela cidade e passear por um parque, trazendo embaixo do braço um bom livro para me fazer a companhia, entendo que desta maneira consigo encontrar inspiração para escrever e aliviar o estresse da semana saboreio um lanche (o famoso e tão perigoso churrasco grego) e bebo um suco para ajudar a digeri-lo, a sombra de uma árvore, dessas existentes nas grandes cidades onde de tão castigadas pelos cupins se suicidam a qualquer sopro de brisa, procuro um banco (estes que as pessoas os utilizam para tudo menos como para a sua verdadeira função), sento-me nele e abro o livro, encontro a última página da minha última leitura e início a minha viagem, naquele momento esqueço de tudo, das minhas dívidas, do meu trabalho, da violência, de que estou sozinho e até mesmo de que estou sentado num banco de um parque qualquer.

Na leitura começo a fazer inúmeras caretas com o desenrolar da história, dou risada, me emociono, fico angustiado, surpreso, indignado, sem importar-se com as pessoas que passam no local naquele exato momento, para respirar um pouco, com os olhos faço uma visão panorâmica ao meu redor para ver se consigo captar algo diferente, anoto o necessário e continuo a leitura. E foi em um destes momentos de respiração que percebi um casal a minha frente, sentados naquele banco, comiam alguma coisa qualquer, trocavam carícias e colavam as suas bocas em demorados beijos, de vez em quando uma mão mais assanhada escorregava pelo corpo da garota e rapidamente era avermelhada com um tapa certeiro, concentrado naquelas cenas que se repetiam a todo o instante, deixei o meu companheiro de lado e fixei-me no casal, peço perdão a minha indiscrição, mas para quem escreve um simples voar de um pássaro se torna um prato cheio.

Quem passava por eles, em sinal de reprovação, balança a cabeça ao ver aqueles dois, que depois de uns vinte minutos já eram um, se consumirem ali mesmo, não chegavam a apelar, contudo transmitiam um calor tão intenso e verdadeiro da paixão existentes neles, que para quem observava pareciam transar usando todos os sentidos, os olhos, as mãos, o olfato, a audição e a língua. Confesso que cheguei a me trocar por aquele rapaz e me imaginar em plena transa surreal com aquela garota, um policial que caminhava pelo local, pediu com bom humor que maneirassem para evitar maiores problemas e pelo modo que se comportou com certeza também trocou de lugar com o rapaz, voltou a sua vigilância pelo parque e eu continuei a admirá-los, para não ficar evidente que assistia como uma peça de teatro, abria o livro e fingia ler algo, por cima dele fintava o casal que não se preocupavam com aquelas cenas de “amor explícito”, e nem poderiam, em uma sociedade onde você expressar o amor é sinônimo de burrice, é ser “CARETA” como os jovens gostam de dizer, demonstrar afetividade para todos verem, seria um tapa na cara das pessoas que vivem, se alimentam e crescem por dinheiro, pela mentira e pelo supérfluo, preferem exibir roupas novas em seus corpos do que alimentá-lo com uma boa comida, com carinho, com sentimentos e com amor.

À noite, depois de me despedir daquele casal (indiretamente, não sou tão indiscreto assim), enquanto caminhava de volta para casa com o meu velho amigo sob o braço, fui compondo algumas palavras que poderiam mais tarde, na frente do computador, se transformar em um belo soneto ou uma linda poesia. Tomei um bom banho, preparei uma macarronada e com o prato na mão me direcionei ao PC, tecla dali, de lá, volta, “deleta”, pressiona o “enter” e nem o soneto e muitos menos uma poesia conseguia escrever, esperei um tempo e enquanto terminava de comer o macarrão, lendo o que já tinha escrito, ao unir as palavras, surpreso comigo mesmo, comecei a rir (quase me engasguei) do que acabava de ter montado, isso mesmo que vocês imaginaram.

Nesta linda crônica que nasceu como um soneto, quase virou uma poesia e se transformou em uma homenagem a este sentimento tão maravilhoso e ao mesmo tempo tão raro de se ver, o AMOR.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 25/07/2009
Código do texto: T1718016
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