O QUE VOCÊ PREFERE?

Quem leu o meu perfil sabe que sou professor e intérprete de LIBRAS e, antes que perguntem como se interpreta a libras do pneu de um carro esporte, quero dizer que ela não é uma unidade de medida (estou fazendo de conta que sei alguma coisa de física) é uma língua e que, ao contrário do que muitos pensam, ela não é universal. A LIBRAS que leciono e interpreto é a Língua Brasileira de Sinais.

Ela é tão rica quanto qualquer outra língua. Possui níveis linguísticos: morfologia, fonologia, semântica e sintaxe (agora finjo que sei linguística); e se organiza no hemisfério esquerdo, área responsável pela organização neural das línguas (dessa forma te convencerei que sou superdotado, pois também entendo de neurolinguística, será?).

Tenho certa fluência nesta língua e quando estou com um grupo de surdos, batendo-papo, só quem me conhece sabe que sou ouvinte (não-surdo, que ouve, conseguiu acompanhar?) caso contrário não percebem a diferença. Ontem estava no ônibus indo à faculdade (onde trabalho) colocando o papo em dia com alguns amigos surdos, inclusive a aluna da facul. e, um deles brincou com um adolescente que estuda com ele, este adolescente quase se jogou pela janela, me virando para trás (em direção aos dois) disse: “oh rapaz, cuidado cair da janela!”, e endireitei na cadeira.

Depois outro colega (também aluno da facul) me disse que estava se contorcendo de tanto rir, pois viu/ouviu uma menina com os olhos esbugalhados (de tanta surpresa) dizer: “ele fala!!”.

É verdade. Eu falo. E como o Burro do filme Shrek, o difícil é me fazer calar! –(ainda bem que escrevi um monte de coisas difíceis ai, se não você ia dizer que é verdade, que sou igual ao burro).

Trabalhar com a língua de sinais e pessoas surdas muito me compraz. Hoje sou aceito pela comunidade surda, tenho uma profissão sólida e amigos eternos.

No início, quando estava aprendendo a LIBRAS, ainda em cunho religioso (me profissionalizei bem depois), também tocava bateria (bom, eu batia com as baquetas nas caixas, às vezes acertava) na equipe de louvor da minha igreja então, no período de louvor eu tocava e quando o pastor assumia o púlpito eu estava lá, ao lado dele, para interpretar para a língua de sinais (todos os cultos da minha igreja, Terceira Igreja Batista de Linhares, são interpretados em LIBRAS, desde o ano 2000).

Numa bela noite, no final do culto um surdo me procura e me pergunta:

- Posso te fazer uma pergunta? –na verdade ele queria me fazer uma série de perguntas. Não sei por que as pessoas dizem: “posso de fazer UMA pergunta”; se dissermos “não”, não adianta, a pergunta já foi feita, se “sim”, eles fazem OUTRAS!

- Sim, fala. –respondi.

- Qual dos dois você prefere: tocar bateria ou interpretar?

- Dos dois. – respondi sem pestanejar.

- Não, eu disse qual dos dois, não pode ser os dois.

Sacana, me quebrou no meio! É óbvio, se são duas e se se pergunta qual dos dois, quer dizer que é apenas um! Dããããã!!!

- Hum... -pensei um pouco (claro que penso! às vezes)- de interpretar –respondi.

- Posso dar uma opinião? – continuou ele.

- Claro! Qual? –bendita hora que perguntei.

- continua tocando bateria.