FRAGMENTOS

Estava andando por uma daquelas ruas do centro da cidade, e sem perceber me encontrei no meio de um amontoado de pessoas. Tentei retornar , mas parecia-me impossível me livrar daquela multidão de curiosos. Logo alguém me deu cutucada no ombro, cheia de curiosidade.

-Que foi, heim? Que que aconteceu?

- Não sei! Respondi tentanto sair do tumulto

- Eu vi – respondeu um sujeito com ar de quem gosta de fofoca – Não viu não? Lá estar o corpo estendido, jogado no chão....

- É, acho que foi infarto – entra outro na conversa dando sua opnião.

Enquanto isso a aglomeração vai aumentando e uma mulher que entra no papo já foi dando o seu veredicto.

- Não, foi infarto nada, isso ai foi crime de traição – fala a gorda, arfando com a fofoca escorrendo pela boca.

Nesse meio tempo chega uma moça chorando, aos prantos ao deu meu lado..

-Que foi Dona? Ele é seu parente então? Perguntei entristecido.

- Parente de quem moço?

- Ora, do morto.

- Morto? Que morto? Choro porque o meu namorado me deixou e foi embora – respondeu ela abrindo mais o berreiro.

- Mas diga-me, o que aconteceu? Pergunta ela já curiosa, passando as costas da mão no nariz e esfregando na saia.

- Ora, se tu que choras não sabes, com então saberei eu?

E continuei tentando sair do tumulto, cada vez apertado pela aglomeração curiosa...

Um toque no meu braço, e já me deixa assustado

- Moço, me dá um real pra alimentar meu bagaço, to a procura de trabalho e desde ontem não como – falou o infeliz com um bafo de cachaça que quase fiquei embrigado.

- Como? Ora, que tenho eu ver com isso, não sou seu pai nem seu governo...peça ao cara ai do lado, parece dono de firma, quem sabe te dá um emprego...

-O quê? Pedir a mim – defendeu-se o engomadinho

-Já sou pai de meus dez filhos, fale com o engravatado - completou, apontando o sujeito que estava do seu lado.

- Ei! Oh! Sai pra lá, não pise no meu sapato que ele foi engraxado e não toque no meu paletó, que esse aqui é importado - respondeu logo aborrecido sem deixar o pedinte abrir a boca

- E você aqui, sacudindo esse seu trapo – emendou sua bronca com outro mendigo do lado - sou alérgico a probreza, sai pra lá com seu farrapo – completou preocupado em não encostar no mendigo e a ver quem era o morto.

Me aperta então outro sujeito, tipo marombado, alto, de paleto e gravata, pasta de executivo e celular no ouvido. Na minha tentativa de sair da multidão, já tava quase chegando fora....

Um gay aperta o braço do tal sujeito, como quem quisesse sentir a musculatura e manda a pergunta dúbia.

- Oi....que foi heim!?? Nossa, que corpo é esse!!!????

- É meu corpo seu idiota, - respondeu irritado – e vê se tira a mão de mim – completou tirando a mão do gay seu braço com uma certa violência.

- Nossa, que afronta meu querido – eu tava falando do morto estendido ali no chão – disfarçou., medindo o sujeito com olhar.

- Morto? Que Morto? Responde esticando o pescoço – Eu não vi, eu não sei não – responde o tal musculoso, saindo já apressado.

- Moço, moço, cê pode me uma moeda pra eu comprar mais um pão – catuca o garoto ao sujeito todo cheio de bugingangas.

- Pão? Tenho pão não garoto, sou vendedor ambulante. – e sai gritando bem ao pé do meu ouvido, enquanto acabo de sair do meio daquele inferno...

- Alô , alô... hoje aqui tem promoção, quem comprar dois, leva três.....

Me afastei rapidamente, olhei pra trás, e calculei, olhando para o relogio...

Ufa! Uns Dez minutos da mais pura confusão..

angela soeiro
Enviado por angela soeiro em 10/06/2006
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