Oferta-relâmpago: uma crônica de humor sobre supermercados

Há quem goste.Mas há quem odeie, também.Ir ao supermercado pode ser um tormento para algumas pessoas e um momento de lazer para outras.Seja para fazer as compras do mês ou as semanais, esse programa – de índio? - está na rotina da maioria das famílias.

Assim que saí do carro, vi aquele carrinho de compras dando sopa próximo à entrada do supermercado."Baita sorte", pensei. Dez metros depois, a cilada: ele tinha vida própria, insistia em ir para o lado oposto do que eu queria.Empacava feito mula.Abandonei-o no corredor de enlatados.

Empurrar um carrinho de compras é um esporte: o cliente-atleta “corre” em todas seções do supermercado, tomando cuidado com as crianças à solta, moças de patins, locutores, outros “competidores” guiando seus carrinhos desprovidos de coordenação motora...Muitos ao cruzarem a linha de chegada, digo, o caixa, estão extenuados.

Fria é ir ao supermercado com fome.A listinha que você fez com carinho vai para as cucuias...Junto com a grana, obviamente. Mas dependendo do mercado dá até para fazer uma boquinha: não, não sugiro que você se esconda das câmeras de vigilância e viole as embalagens dos produtos! Apele para as degustações de café, sopa, pipoca de micro-ondas...E economize seu dindim.

Na seção de hortifruti, uma moça começou a flertar, de longe, com um homem atraente.Porém, quando ele começou a apalpar os delicados mamões-papaia sem dó, nem piedade, ela deduziu ali que ele não seria um bom amante.Seguiu seu caminho ao som da romântica música ambiente do supermercado, enfiando no carrinho uma série de itens sem nem prestar atenção:

-Moça, a senhora está pondo coisas no meu carrinho! – disse um senhor enfurecido com a troca.

Duas combinações perigosas: ofertas-relâmpago e mercados tumultuados! Quando o locutor anuncia a promoção pelo microfone, é um “pega para capar”, um “deus-nos-acuda"! É gente estapeando a freguesa ao lado por uma bandeja de drumet! O pior é que, depois de pegar quarenta itens de frango, a pessoa reavalia:

-Humm...Acho que não vai caber no meu refrigerador! Vou deixar isso em qualquer prateleira!


Dia de pagamento é complicado: os corredores ficam cheios, as prateleiras bagunçadas e os produtos já escolhidos.Depois, a fila nos caixas é um teste de paciência. Quando finalmente você começa a botar na esteira as suas compras, a mocinha avisa:

- Vou estar trocando a bobina da caixa registradora.Aguarde, por favor!

Vem a moça dos patins, demora mais um pouco. E mal sua compra rola na esteira, você se dá conta que o cliente atrás de você, que já deu aquela cutucada no seu derrière com o carrinho, foi jogando as coisas dele na esteira também.Misturou tudo!

Após ensacar, ajeitar no carro, descer as compras em casa, você percebe que esqueceu de comprar algo importante.Ô dó!

Quem não gosta desse calorzinho humano, é possível fazer a compra via internet.Mas o "São Delivery" cobra caro pelo milagre!

Prefiro as madrugadas.Em tempos de gripe suína, prevenir é melhor que remediar.Nessas horas, a seção de carnes - inclusive a de porco - está tranquila.Você não pega fila.Nem vírus.

Ofertas e novidades são tentadoras.Por isso, muitas vezes enchemos o carrinho e os gastos podem ir além do previsto. Talvez seja melhor escutar com atenção o primeiro trecho da música “Engenho de Dentro”, de Jorge Ben Jor:“Olha aí meu bem, prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém”.Aproveite que você está no supermercado e compre o logo o frango para essa receita.Só não estapeie de novo a freguesa por causa da oferta de minuto!

Compra não o que consideras oportuno, mas o que te falta; o supérfluo é caro, mesmo que custe apenas um soldo”.–
Catão

Boas compras!
 

(Maria Shu - 30 de julho de 2009)
 
 

Maria SHU
Enviado por Maria SHU em 30/07/2009
Reeditado em 28/04/2011
Código do texto: T1727857
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