Escolas ou presídios?

Esther Ribeiro Gomes

É muito triste a nossa realidade! A situação que aí está, é resultado de décadas de descaso do poder público com os fundamentos básicos da cidadania: saúde, educação, moradia e emprego dignos, atrelados à secular má distribuição de renda.

Antes de me aposentar, trabalhei quatros anos na Febem/Guarujá e vivi experiências muito tristes que até hoje não me saem da memória.

Infelizmente, por melhor que seja o trabalho com os adolescentes internados, através de atendimento psico-social, além do ensino fundamental e médio e diversas atividades, nada se consegue, se não houver uma sólida estrutura familiar.

A miséria empurra esses jovens para o tráfico, às vezes incentivados pela própria família, que vislumbra no traficante uma ‘saída’ para solução de seus problemas. Grande engano... Quantos jovens que ao serem liberados, poderiam começar uma nova vida, são friamente eliminados a mando dos próprios traficantes, porque deviam algum dinheiro a eles.

Eu nunca me esqueci do olhar apavorado de um menino, ao adentrar na FEBEM, com uma das mãos fechadas. Por mais que os vigilantes mandassem-no abrir a mão, supondo que fosse alguma droga, mais ele se retraía e não obedecia. Cheguei perto dele e conversei amigavelmente, dizendo que não havia nada a temer, que estávamos ali para ajudá-lo. Finalmente ele abriu a mão e para minha surpresa, havia um santinho todo amassado, demonstrando que estava orando, apavorado!

Convivi com meninos que me surpreendiam dia a dia! Inteligentes, aprendiam com facilidade tudo que lhes era ensinado, alguns se tornando campeões em xadrez! Se alguém lhes tivesse dado uma oportunidade, poderiam ter se formado cidadãos exemplares, úteis para a sociedade!

É muito fácil e cômodo culpar o governo pela miséria e consequente violência que assola o nosso país. Essa situação que estarrecidos e impotentes vivenciamos, poderia, aos poucos, ser minimizada se cada um fizesse a sua parte... Se cada um de nós levasse um tijolinho de solidariedade, um dia, não muito distante, exibiríamos orgulhosos, nossa construção de cidadania, imponente e realizada!

Então poderíamos assistir, felizes, ao declínio dos presídios e à proliferação das escolas! Não é utopia, depende apenas da nossa boa vontade! Basta um tijolinho...

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 01/08/2009
Reeditado em 05/10/2009
Código do texto: T1731199