RECADO PARA O ALÉM

Homenagem a Elton Carvalho

Hoje, dia 13 de novembro de 2008, Élton, desarrumei a vitrina que , tão carinhosamente , você desarrumava e arrumava, de quinze em quinze dias, durante muitos anos.

A sua vitrina, guardava o seu tesouro literário: quase quatro centenas de Troféus, mais de uma centena de Medalhas, mais de 500 Diplomas, conquistados em Concursos de Poesias, Trovas, em Conferências, esportes militares e tantas outras competições, nos seus mais de quarenta e cinco anos ininterruptos servindo ao Exército Brasileiro.

Em sua última tarefa de limpeza em sua vitrina, em finais de setembro de 1987, você, como se previsse algo tenebroso, falou : - não há mais lugar para colocar os prêmios que eu, por acaso conquistar e não tenho mais idade para sonhar com outra vitrina com tantos outros Troféus, por isso, o único prêmio que desejo é ver chegar o ano 2000... e acrescentou: - se chegar, estarei com 84 anos, o que não deve ser demais para Deus conceder a um poeta.

Tudo o que você falava era tão espontâneo, tinha tanta pureza que eu não acreditava que Deus tivesse coragem de lhe negar o pedido e, ingenuamente, comecei a pensar na sua ausência muito distante, perto de um centenário de vida, pois, até ali, saúde era o que não lhe faltava.

Eu estava tão convencida do deferimento do seu pedido que, menos de quinze dias depois quando o médico me disse que você havia sofrido uma esquemia cerebral, eu não acreditei e, inconscientemente, comecei a blasfemar contra um Deus , segundo o meu desespero, que não cuidava de seus filhos... que estava ausente quando mais precisavam d’ Ele.

Você foi um guerreiro: lutou pela vida, durante quase sete anos sem nunca perder a paciência, a lucidez, sem reclamar , sem nunca perder a Fé em Deus e em seus Mandamentos, enfim, como sempre dizia que agiria se a desdita batesse à nossa porta, você agiu como o filósofo que era. Aceitou todos os revezes da vida, no curso de sua enfermidade e repetia sempre que parecia desanimar :

“ Eu já sei desde criança

quando aprendi a rezar

que a gente perde a esperança,

mas Deus ajuda a encontrar.”

Durante esses quase sete anos, minha fé foi abalada várias vezes, mas passada a primeira sensação de abandono eu dizia :

Às vezes tudo exigimos

Que Deus faça a todo o custo

Sem pensar que o que pedimos

Tornaria Deus injusto.

No dia 3 de março de 1994 você se despediu da vida e eu continuei zelando por sua vitrina. E hoje, mais de catorze anos depois, fiz a última desarrumação : embalei os Troféus e encaixotei-os. Mais de 140 Medalhas foram carinhosamente colocadas em uma sacola.

Aquela caixa verde, especialmente adquirida para colocação de documentos fico abarrotada com seus diplomas literários, diplomas funcionais, de Medalhas do Mérito Militar, outras de igual valor e até a Medalha de seus sessenta anos de formatura, que recebi em novembro de 1997.

Vi, com as lágrimas rolando pelo rosto, o seu acervo cultural sair encaixotado para o Museu Histórico do Exército, no Forte de Copacabana e senti um alívio enorme, pois receava que chegasse a minha hora de partir para o outro lado da vida deixando tão rico patrimônio cultural à mercê de quem não se interessasse em cuida dele e, como uma oração de agradecimento a Deus, rememorei a Trova que havia feito em sua homenagem depois do seu de sua partida, que dizia.

No momento em que partiste

pranteei minha viuvez ...

Foi o trajeto mais triste

que uma lágrima já fez.

Estou feliz por ter dado o melhor destino que poderia sonhar ao seu acervo literário, o Museu Histórico do Exército e agora começo a pensar : “Quem cuidará do meu acervo literário quando eu passar desta para a outra vida ? Onde acomodarão minhas cinco centenas de prêmios, se não me sobrar tempo para dar um bom destino a elas ?

E me respondo: - Calma, Maria ! “Quem sofre por antecedência, sofre muitas vezes”. E concluo dizendo:

Sou, a Deus, agradecida

por tudo o quanto alcancei

porque recebo da vida

muito mais do que sonhei.

Maria Nascimento Santos Carvalho

Maria Nascimento
Enviado por Maria Nascimento em 01/08/2009
Código do texto: T1731462