A B U N D A!

É chegada a hora dizer um basta. Isso quando as coisas já não mais caminham em conformidade com os nossos ideais, ou mesmo, em disformidade com o que gostaríamos que fossem.

No dia-a-dia de nossa mídia já está abundante tanta informação de corrupção, gripe suína, crise etc; são assuntos que não param mais de pipocar. Termo exato - pipocar!

Ora, quantas e quantas notícias são refeitas antes mesmo da digestão. E olhem que temos a memória curta por demais, então, parece que há um revesamento de notícias, em que, infelizmente, não mais saibamos o que ocorreu semana passada, estamos afim do que vai ser noticiado no dia seguinte. Qual será a notícia da vez?

Num folhetim, datado de 24 de outubro de 1864, tem uma crônica de Machado de Assis, em que há uma total clarividência dos fatos que hoje nos cercam, invariavelmente, quanto à corrupção. Diz Machado: "É uma santa coisa a democracia - não a democracia que faz viver os espertos, a democacia do pape e da palavra -, mas a democracia praticada honestamente, regularmente. Quando ela deixa de ser sentimento para ser simplesmente forma, quando deixa de ser ideia para ser simplesmente feitio, nunca será democracia -, será espertocracia, que é sempre o governo de todos os feitio e de todas as formas. A democracia senceramente praticada tem os seus Gracos e os seus Franklins; quando degenera em outra coisa tem os seus Quixotes e os seus Panças, Quixotes no sentido de bravata, Panças no sentido do grotesco. Arreia-se a mula de um e o rocinante de outro. Cinco palmos de seda, meia dúzia de vivas, uma fila de tambores - é quanto basta, então, para levar o povo atrás de um fanfarrão ao ataque de um moinho ou à defesa de uma donzela".

Quanta sabedoria e quanta coincidência com os dias atuais. Será, meu Deus, que Machado cortou o tempo e insurgiu em nossos dias? Quantas verdades em tão poucas palavras?

Esse povo que não tem direção, que ora se aclama por um Pança, ora é acalentado por um Quixote, esse povo, meu Deus, também sou parte, talvez por isso a indignação seja maior. Dada a minha incompetência diante de tantas farras com o que pertence a nós, mas que por nossa miséria cultural deixamos ao cuidado e ao bel prazer de poucos que nos representa - chamados de políticos.

Não sou contra a mídia, eis que desencadeia uma das mais brilhantes e significativas formas de se fazer democracia. O que ocorre, pois, com o resultado das informações que me aborrece, ou seja, nos torna omisso diante de tantas e tantas crueldades com o que é nosso.

Pois bem. Nós, brasileiros conscientes de nossas cidadanias, temos por obrigação demonstrar que ABUNDA de tantas mazelas tem que chegar ao fim.

ABUNDA de hipocrisias tem que ter um basta. Num país em que se valoriza tanto a BUNDA, não se pode dar ao luxo de abundar corrupções com o dinheiro público e nada se fazer. Tem-se que valer também outras partes do corpo, como o cérebro.