"-Trinta e Oito!"

“ ── Trinta e oito!”

 

 

Theo Padilha

Já foi o tempo em que a lavoura cafeeira era a coqueluche do norte pioneiro paranaense. Era a época das vacas gordas. Qualquer cidadão que tivesse mil pés de café era fazendeiro. O Banco do Brasil era o ponto de encontro desses abastados cidadãos. Ali cada um queria exibir melhor o seu padrão de vida. Conhecia o gerente do banco pelo nome. Ostentava uma bela caminhoneta. Um belo chapéu na cabeça, comprado em Barretos. Eram verdadeiros patrões. Quase toda a população de nossa pequena cidade, trabalhava para eles.

O Otílio, nosso personagem era um deles. Dono de uma fazenda com muitos pés de cafés. Ele era bem sucedido. Sujeito muito pacato. Com um linguajar bem organizado, parecia um advogado. Coisa que Otílio aprendeu com a política. Fora vereador, viceprefeito, candidato a prefeito. Fazia parte da nata da nossa região. Membro do Lions Clube. Casado com a filha de outro abastado fazendeiro. Com filhos na faculdade, etc.

Otílio tinha um defeito, Era mulherengo. Desse defeito ou virtude, toda a cidade sabia. Quantos causos ele foi protagonista na boca dos amigos da vida alheia, que existem em todos os cantos.

Conta-se que o fazendeiro tinha muitos camaradas avulsos, os boiasfrias, assim chamados. além dos que já viviam na fazenda Estrela do Norte. E certa vez ele começou a namorar a Aparecidinha, mulher casada, bonita, morena, de seios grandes, uma das mais bonitas das que ali serviam. Seu marido, Davi, também ali trabalhava. Numa colheita de café. Cerca de 50 boiasfrias estavam esparramados pelo cafezal. Com rodo, peneiras, sacaria, escadas, etc. Otílio acompanhava passo a passo a “apanha” do café. Não podia usar varas para bater nos altos pés de café. Tinha que se usar a escada. De repente o fazendeiro sentiu uma mão no seu ombro. Era a Cidinha, toda feliz:

─ Tarde, patrão!

─ Tarde, Aparecida! Mas por que está parada!

─ Uai! Eu não podia ficar sem ver “ocê” patrãozinho!

A mulher estava para o crime. “Cascou” um grande beijo no homem, que o deixou estonteante, na presença de dois pequenos filhos que os olhavam. Logo abaixo dali havia uma mina d água.

─ “Vamo bebê água comigo”? Disse a mulher toda faceira.

─ Cuidado! Eu já lhe disse! Seu marido pode perceber.

─ “Ele tá muito ocupado”! “vem, vamo”!

E foram, beberam água, se beijaram e estavam voltando, quando Otílio a arrastou para baixo de um frondoso pé de café. Agora, não tinha ninguém por perto. O fogo da paixão tomou conta daqueles dois. E sacudiram a moita, ali mesmo. Naquele calor.

E depois ficaram olhando um para o outro sob o pé de café. Trocando juras. O fazendeiro estava relaxado e feliz. E disse em voz alta:

─ Sabe Cidinha, se eu soubesse o número de butina de seu marido, eu ia dar a butina que você me pediu!

Davi, o marido de Aparecidinha, que vinha tomar água e ouvira, gritou mais que depressa:

─ Trinta e oito!

É foi assim...

Joaquim Távora, 4 de agosto de 2009.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 04/08/2009
Código do texto: T1735727
Classificação de conteúdo: seguro