A familia que se tem e a familia que se sofre

Nascemos.

Fomos de alguma forma (e não me perguntem como), inseridos num espaço onde pessoas atuam, possuem valores construídos, têm prioridades peculiares, amam-se ou odeiam-se.

São hipócritas ou autênticas, honestas ou sacanas, felizes ou infelizes.

E somos colocados nesse espaço: frágeis, dependentes, indefesos.

Estamos no seio de uma família.

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Afinal, o que é uma família feliz?

Do meu ponto de vista é aquela em que o prazer da troca entre seus membros seja prioridade.

Infelizmente não é a regra.

Assistimos a manipulação afetiva sutil e complexa nas relações familiares.

Faz-se uso de processos inconscientes ou semi-conscientes onde o afeto e o sentimento predominam.

E as técnicas de manipulação são muitas: imitação, sugestão, persuasão, pressão moral, percepção subliminar, reflexão e reflexos condicionados.

As pessoas manipuladas (sic!) são dispensadas de terem que escolher (o que é humano), e perfeitamente horrível.

É incontestável que a maioria das pessoas é absolutamente omissa para lidar com tais questões, o que agrava o problema.

Quase sempre usam de disfarce ou dissimulação para encobrir os fatos.

O principal erro está no que se refere ao aspecto material.

A bendita compensação.

Pais que não possuem tempo para os filhos compensam com presentes ou recompensas materiais.

E depois?

Que adulto esse filho se tornará?

O buraco é muito mais fundo, pois não se trata de uma questão quantitativa, mas qualitativa.

Tais filhos não dimensionam a relação com os pais em termos de tempo, mas no modo como essa relação se desenrola.

A compensação material torna-se então um embuste para que gerencie sua dificuldade em passar afeto e sua falta suprema de treino amoroso.

A repercussão na vida afetiva adulta é desastrosa.

A tendência é a pessoa tornar-se rebelde e insensível no aspecto da pessoalidade humana.

Qualquer educação que valorize o poder, o status e sucesso criarão filhos que carregarão imensa soma de ansiedade e insegurança, que priorizarão apenas o aspecto material, tratando os pais como instituições financeiras para compensar sua frustração secreta de não autenticidade.

É fundamental que todos estejam ao menos parcialmente aptos para enxergarem determinadas verdades por mais dolorosas que sejam.