Quer namorar comigo?

Tinha seus quatorze anos. Menina, de inocentes sonhos, todo dia passava frente a casa dele, de sainha curta, tênis All Star, mochila nas costas. Não imaginava que arrancava suspiros do menino, que em pé, atrás da cortina da sala, vigiava a amada todos os dias. Ele, já com dezessete anos, alto demais para a idade, fingia desengonçado que sabia lidar com o corpo que surgia todo tempo com uma novidade. Pensava em abordá-la qualquer dia na calçada, com um sorriso, uma flor, uma poesia. Mas só em pensar, tremia. Ainda não tinha qualquer tato com o amor.

E assim passaram-se anos e muitos amores. O menino escrevendo e relembrando seu primeiro amor, a menina num espaço solitário, sequer sabia o quanto era amada. Coisas que a vida explica jogando a culpa no destino, que une, separa e também promove reencontros. Mudança de casa, de sonhos, de vontades. Aprenderam e desaprenderam muitas coisas, que ficaram lá atrás, perdidas na infância, mostrando que era preciso transformar, mudar. Seguiam em histórias desencontradas, amores complicados, mal resolvidos. Mas num desses caminhos da vida, se encontraram. Amadurecidos, vividos, mas ainda com aquele sonho intocável, que sobreviveu aos desencantos.

O tempo, antes tão insensato, parecia ter estagnado a vontade e a esperança. Pessoas que se amam se encontram, quando chega o tempo certo, ainda que elas não saibam ou sonhem. Então o homem (agora menino) pôde entregar a amada as muitas poesias, flores e canções, guardadas para que um dia, lhe fossem entregues, quando ela enfim, aceitasse emocionada seu pedido: quer namorar comigo? A resposta no momento certo. O destino então cumpriria sua missão de dar mais um final feliz para uma história de amor.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 11/06/2006
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