Quando alguém espirrar, diga: Saúde!
 
Nascemos para o prazer? No tempo dos conhecidos ancestrais, transar causava filhos até não parir mais. Depois, tempo dos nossos pais, veio a era dos contraceptivos e só nasciam filhos quando se queria ou por descuido. Prazer e liberdade vieram a galope, com toques de exagerada luxúria e moderação no amor. Deu no que deu. Prazer, grande risco de vida.

Freios puxados, cautela, casamento voltou à moda. Inventamos o “ficar”. Nada demais, só beijo na boca. Mas aí queríamos quantidade de beijos para contar. Experimentamos relações supérfluas como se experimentam camisas. Por falar nelas, no diminutivo, o Ministério da Saúde adverte: "-sempre a experiência com camisinha". Algo assim.


Ok! Bye, bye América! Agora podemos ser felizes! Nada. Vário conflito passado, em países que pareciam distantes, eis a linha vermelha bem no fundo do quintal. Globalização, balas perdidas, aviões caídos, amores e ideais corrompidos, enfim. Por último, mas com a didática das boas maneiras - que esperamos seja o fruto maior desta vez-, já não podemos nem mais apertar a mão estendida por cortesia.

Maçanetas tornaram-se um instrumento de neurose em ciclo. Lavamos as mãos antes e depois, aí desconfiamos que o último que abriu a porta não lavou bem a sua palma e dorso, incluindo a munheca. Aí vai mais álcool em gel. Se duvidarmos, novamente lavamos as mãos, usamos papel toalha, lavamos as mãos, usamos papel toalha... Os frascos de álcool não param mais nas farmácias. Grande momento para os laboratórios e rede de vendas. Quem é que ainda lembra dos estojos de primeiros socorros obrigatórios nos veículos?


Nas igrejas, mesmo as mais tradicionais, o padre não oferece a hóstia diretamente na boca dos paroquianos (já faz tempo!). Quem quiser que pegue a sua. Não se cantam hinos ou se dizem orações de mãos dadas, não se fala mais em abraçar o irmão ao nosso lado. Nas escolas, as aulas são adiadas o mais possível. Nos hospitais, são instalados boxes de atendimento para os gripados suspeitos. Quem ali chegar com uma gripe comum sairá de lá carregando um vírus adicional como bônus e talvez passagem para a quinta estação. Nos ônibus e trens, basta um espirro ou uma tosse seca para todos recuarem para a parede oposta. Isso se houver como se mover em meio à multidão que se aglomera para ir e vir nos coletivos. Nos restaurantes, com “bifê” livre, quer coisa mais anti-higiênica que todos falando e cuspindo partículas microscópicas (às vezes, visíveis) por sobre a comida? Cabelos sacudidos e saracoteios na hora de nos servirmos? Só falta, quando se espirrar, alguém gritar: “cuche, cuche, mêrmão!...”. 


Mas tudo isso que falamos, é para concordar com todos os cuidados, cautelas e medidas de higiene e amor constantes. Seja em tempos de crise ou em momentos de plena expansão de vida. Se alguém pensou ser exagero esses métodos todos, hoje sabemos que nada é demais na prevenção, seja ela primária ou mais avançada.


Talvez, fartos de sofrer cheguemos à conclusão de que: não mais comeremos; não mais viajaremos em coletivos; não mais iremos aos hospitais; não mais estudaremos; não mais rezaremos; não mais abraçaremos; não cumprimentaremos com apertos de mãos; não mais “ficaremos”; não mais... Não!!!