Será o Benedito?

Tenho um amigo, o Mauri, que é um homem de setenta anos.

É um sujeito normal, empresário, dono de uma financeira, pessoa de fácil aproximação e de uma simpatia incorrigível.

Outro dia o Mauri me contava a origem do seu nome, resultado de equivoco: deveria ser Amauri, mas, na época que ele nasceu, seus pais, analfabetos, pediram ao avô materno para proceder o registro de nascimento.

Durante toda a vida sua mãe o chamou de Amauri, bem como o pai e irmãos, a família toda. Todos o tratavam por Amauri e disso não havia dúvidas. Era seu nome.

Acontece que na hora de registrar o avô pediu para o escrevente registrar: Mauri da Silva, querendo dizer Amauri.

O funcionário do cartório não teve dúvida: tascou-lhe o Mauri sem discussão.

Mas havia outro fato somente revelado alguns anos depois desse registro, que realmente surpreendeu a todos:

No dia que o avô ia registrar, a avó perguntou-lhe que nome dariam ao menino.

Amauri da Silva, foi a resposta. A velha um pouco indignada retrucou que deveriam dar o nome do santo do dia, São Sebastião, pois eram católicos e isso poderia agradar aos céus. O avô não respondeu. Saiu calado e chegando ao cartório disse ao escrevente: bote aí Benedito Mauri da Silva, e o funcionário assim procedeu.

Calado, o avô retornou com o documento que jazeu guardado, intocado por mais de dez anos.

Certo dia, precisando do documento para receber o diploma do primário, o até então Amauri da Silva pediu-o a sua mãe, a qual, sem ler (pois era analfabeta) entregou-o ao menino que, então, levou para a professora.

Que surpresa a moça teve ao ler o nome Benedito Mauri da Silva, e a pergunta inevitável foi: quem é Benedito? Você? Então você se chama Benedito?

Meu amigo ficou perplexo. Não sabia que seu nome era Benedito. E mais, também não era Amauri, mas Mauri.

A mãe e o pai, ao saber dos fatos, correram ao cartório para resolver a questão. Não havia nada a fazer.

Naquele tempo simplesmente não havia previsão para mudança de nome, disse o oficial, dessa forma teria que ficar como estava.

Correram para falar com o avô, que manteve o silêncio dos culpados, mas a avó disse que ela tinha escolhido o nome Sebastião.

Sebastião? Mas o registro está como Benedito. O avô havia errado de santo.

Sendo assim, disse a velha, será o Benedito mesmo. Vontade de Deus não se discute.

Ninguém discutiu mesmo. Assim é, assim será.

Almir Ramos da Silva
Enviado por Almir Ramos da Silva em 07/08/2009
Reeditado em 07/10/2009
Código do texto: T1741627
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