O sirineu - Primeira parte

Bem me recordo da primeira vez em que eu e minha nova namorada saímos para passear. Esse passeio me rendeu uma experiência muito interessante deveras, daquelas para toda a vida. Foi logo após consumarmos nosso relacionamento com um beijo e um anel, raro na época era um anel ser dado, mas sempre foi desejo meu fazer assim.

Íamos por uma longa avenida, muito movimentada por carros para todos os lados em uma dessas cidades-estado modernas. Meu nome é Marcos do Amaral e o nome dela eu preservo somente no meu coração. Que Deus a tenha… Eu realmente a amava. Amava demais para considerar uma simples paixão adolescente. Depois que a conheci comecei a filosofar sobre o amor, sobre a vida, sobre as coisas do coração.

Bem dizia o cantor, quem um diz irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração e quem irá dizer que não existe razão. Até conhecê-la sempre fui só, cheio de mim mesmo com meus sistemas e evasivas. Culpava o mundo pelos meus problemas. Pobre do mundo, já tão cheio dos seus próprios problemas. E ali estava eu embaraçado nos braços dela, quem diria eim? Quem te viu quem te vê – diziam todos os hipócritas – no fundo, me desejavam mal e eu o sabia. Afinal, quem quer perder o seu capacho? Eu que não quereria!

Interessante que naquela época não havia policiais nas ruas como hoje. Não sei se o problema estava nas ruas ou nos policiais. Deus abençoe os policiais! Se estivessem lá não teríamos sido coagidos para um beco sem fundo por um meliante armado. E que meliante! Nem era um desses esfarrapados e famintos, era um homem muito bem vestido e cheio de estilo. Daqueles que se chutarmos o traseiro dos bolsos caem as notas. Qual não foi minha surpresa! Onde eu estou que um homem desses vem nos assaltar? Dinheiro, dinheiro – pensei eu.

Como disse antes eu a amava muito. Gente, amor é amor. Os poetas no recinto que se ponham de pé e entendam bem o que eu digo. Anteriormente ao pedido sempre havia me perguntado: Até onde eu vou por ela? Até a morte! – respondia logo. Estava ali o momento da prova real dessa equação tratada às teorias. Deus nos acuda! – pensei. Nesse momento cheguei à conclusão que Deus não é brasileiro. Eu a defenderia até a morte e Deus naquele momento comia rosquinhas no céu. Sou muito religioso, meus caros, mas não sou bocó. Pagamos o preço da escolha e eu estava prestes a pagar o preço da minha: amar ao próximo mais que a mim mesmo.

O homem queria nos atacar! Dinheiro era o caralho! Só pode ser uma provação! – imaginei. Era bem agressivo e espontâneo. Aposto que não sabia o que estava fazendo, que não tinha planos. Foi nos coagindo até o fim do túnel e quando não tínhamos mais para onde ir guardou a arma, levantou os punhos e nos disse:

- Eu vou matá-la. Impeça-me.

Matar a mulher que eu amava. Que demorei tanto para encontrar. Só pode ser uma provação – reforcei.

Vejam bem, meus jovens. Nunca sabemos até onde vamos até irmos. Eu havia me preparado para aquilo desde minha fundação. Sempre disse a ela: Nunca se esqueça de que aqui há alguém que levaria uma bala por você. Eu não estava disposto de voltar com a palavra. Antes eu morrer do que ela, antes eu levar um tiro, antes eu passar fome. Tudo menos ela, eu a amava. Levaria cadeiradas até a morte. Digo cadeiradas porque foi justamente uma bendita cadeira escolar velha que ele pegou para matá-la! Porque diabo tinha uma cadeira ali! Eu nem sabia fritar um ovo e iria lutar com os punhos contra um excêntrico com uma cadeira nas mãos.

- É agora! – gritei me lançando ao combate – Fuja!

Nem tive tempo de me aproximar até levar uma cadeirada nas costas. E outra e outra. O homem largou a cadeira e me levantou. Jogou-me contra um muro ao lado dela e me socou de uma forma que a meu ver o cansou. Ela não conseguia sair. Acho que era sempre tudo muito recíproco, o amor e a dor. Isso havia me dado a certeza do amor dela, era o que bastava para sofrer ali, para me sacrificar por ela, mas ela não podia ficar ali. Não naquele momento, mesmo me amando.

Ele me jogou às migalhas para os braços dela e sacou o revólver novamente. Era o fim.

CONTINUA…

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Zezzo Dantas
Enviado por Zezzo Dantas em 07/08/2009
Reeditado em 07/08/2009
Código do texto: T1741943
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