Nós existimos Papai

Nós existimos papai

Tenho ultimamente empreendido viagens insólitas por caminhos jamais desbravados e paisagens nunca antes vistas. Eu vejo vultos que se assemelham a pessoas mais que não são, como se fossem espetros de uma raça ainda não inventada ou derivação de mutações acontecida em um plano distante de nossos dias, ou de volta ao passado ou então além do futuro inimaginável...

Tenho conversado comigo e a mim confidenciado os segredos mais íntimos de vidas e, em análise itinerante pelos meandros da existência eu me questiono: será que eu existo? E você é real ou mais uma invenção da minha imaginação fértil? Eu tenho um corpo, uma casa, carro ou mesmo roupas? Acredito que não! Porque aqueles que existiram ou não, como meus pais, irmão e demais parentes que desapareceram, eles deixaram vestígios de suas vivencias, mais terá sido real mesmo ou mais um fruto de minha imaginação que tem criado pessoas e personagens peças e até mesmo filmes intermináveis. Qual seria a experiência perpetrada pelo nosso criador e qual seria o propósito verdadeiro de todas as missões e irradiações que levam motivos e planificação de vidas e existências? Sei, eu tenho procurado com afinco uma reposta para todas essas coisas e cada vez que mergulho no infinito mundo das trevas eu encontro a luz e logo vem a interrogação, como separar a noite do dia se eles estão intrinsecamente ligados pela fabulosa incerteza do amanhã?

Assim que o sol se foi eu olhei para os meus pés e percebi que estavam calçados com sapatos marrons, bem cuidados e lustrados de forma reluzente, mais eu não lembro de tê-los comprado e nem mesmo de ter calçado, imaginem um homem vestido de pijamas e calçando um belo par de calçados da ultima moda e novinho em folha que ele jamais viu nem nas vitrines. Não é intrigante?

Eu tenho lembranças vivas de minha família em especial de meus pais a quem eu muito amei e de uma numerosa família maravilhosamente unida e que se reunia nas festas de aniversário. Quanta comemoração, e falações, restaram somente a saudade, eles já se foram ou são como eu, nunca existiram...

Que tipo de vida é essa, que existência paranóica nos prega o grande teatro e, quem nos somos afinal? São esses tipos de pergunta que paira em mentes pensantes e exaustas de buscar pelo imaginário. Somos atores fantasmas de uma peça que não dá direito a ensaio e não permite erros, somos frutos de uma sociedade decadente e errante que cobra cada vez mais de todos por qualquer deslize, quem são esses julgam e emitem julgamentos? Nos também, somos assim como todos eles ou será que também buscam as mesmas respostas que nós?

Mais é que entre o existir e o divagar, eu construir uma história de existência, de vida e nela eu construir relatos de pessoas maravilhosas como meus pais, irmãos, primos tios que se foram, desapareceram mais que os guardei como um balsamo em meu coração e os armazenei em minha alma peregrina e hoje ao passar por uma vitrine de roupas masculinas verifiquei ser o dia dos pais, senti um arfar no peito, um nó se apertando em minha garganta e de meus olhos caíram lágrimas de saudades por não poder dar ao meu pai aquela camisa linda que ele sempre sonhou ter, de poder abraçar aquele corpo enrugado e cansado e beijar-lhe as faces e falar sussurrando porque a voz embargada pelo sentimento não saia e dizer feliz dia dos pais porque eu te amo meu velho. Mais eu nunca falei isso antes, porque simplesmente eu não quis e te dei aquela camisa, mais faltou te dar junto o meu afeto e o meu amor, então agora eu me lembrei que existimos, eu, você e nosso amor.