OSCAR WILDE, O IRREVERENTE



Oscar Wilde é um nome bastante conhecido, principalmente pela sua mais famosa obra, “O Retrato de Dorian Gray”, lançada no ano de 1891. Na ocasião, não foi bem recebida pelos críticos que a consideravam “envenenadora dos costumes”. Já a li por duas vezes e a considero muito interessante, com uma história que questiona a beleza e a juventude, bem como os nossos valores morais.

         Os críticos morreram sem deixar saudades, e o trabalho de Wilde ultrapassou gerações, não apenas por sua literatura, mas também pela sua própria irreverência.

         Dorian Gray é um jovem muito bonito, pertencente à alta sociedade. Seu amigo pintor, Basil Hallward, faz uma pintura (retrato) de Dorian que fica belíssima e este, ao vê-la, tem o desejo de que o quadro envelheça e ele continue eternamente com seu belo e jovem rosto. Ele não poderia adivinhar que este seu desejo narcizesco seria atendido e que sua vida iria passar por extremas mudanças.

         É exatamente a partir desse ponto, quando Dorian percebe que seu desejo foi atendido, que o livro começa a ganhar ação, mostrando como Oscar Wilde enxergava a vida. O autor declara no prefácio do livro que “Vício e virtude representam para o artista a matéria prima da sua arte”.

         É uma obra que nos leva a refletir sobre a juventude, o valor da beleza na sociedade, a extrema vaidade e o caráter das pessoas. O final – que, é claro, não vou divulgar – chega a ser surpreendente, mostrando-nos toda a genialidade literária de Wilde.

         Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em Dublin – Irlanda – em 16 de outubro de 1854. Talvez sua ironia e irreverência tenham sido heranças de sua mãe, Jane Francesca Elgee, que defendeu a causa da Independência Irlandesa.

         A partir de 1876 passou a morar em Londres, tendo uma vida social bastante agitada sendo logo caracterizado por suas atitudes extravagantes. Em 1882 foi para os Estados Unidos onde ministrou uma série da palestras, tendo como tema o movimento estético por ele fundado, e que tratava da importância do belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial. Desistiu de seu movimento estético em 1883 quando foi para Paris e entrou no mundo literário local. Ao voltar para a Inglaterra, casou-se com Constance Llyd, indo morar em Chelsea, um bairro dos artistas londrinos. Teve dois filhos: Cyril, em 1885 e Vyvyan, em 1886.

         Seu melhor período intelectual é o que vai de 1887 a 1895. Ficou muito bem financeiramente e com uma fama cada vez maior, tornando-se extremamente conhecido. Paradoxalmente a isso, veio também uma vida cada vez mais mundana, com atitudes cada vez mais excêntricas, até que assumiu de vez sua homossexualidade, que era proibida por lei na Inglaterra.

         Foi quando conheceu, em 1895, o jovem Lord Alfred Douglas, com quem passou a conviver de uma forma bastante estreita. O pai do jovem, Marquês de Queensberry, o ofende através de um bilhete e Wilde entra com um processo contra ele por difamação, pois tinha certeza absoluta de que iria vencer o julgamento.

         Ledo engano, pois acabou sendo condenado a dois anos de prisão por suas práticas homossexuais. Junto com a prisão veio a desgraça total: sua situação econômica e social se deterioram, seus livros são retirados das livrarias e suas comédias saem de cartaz. Praticamente todos os seus bens são leiloados para que pudesse pagar as custas do processo, culminando com a retirada de seus filhos que eram mantidos sob sua tutela.

         Ficou em dois cárceres, e no Cárcere de Reading (o segundo) escreveu o poema “A Balada do Cárcere de Reading”. Sua libertação deu-se em maio de 1897 e pouquíssimos amigos o esperavam na saída da prisão.

         Foi então morar em Paris, adotando o pseudônimo de Sebastian Melmoth. Passou a usar roupas baratas, morando em um lugar humilde, de apenas dois quartos e aí começou a desistir de escrever tornando-se extremamente preguiçoso.

         Oscar Wilde morreu de um violento ataque de meningite (agravado pelo álcool e pela sífilis) no dia 30 de novembro de 1900, aos 46 anos.

         Neste ano de 2009 terão se passado 109 anos de sua morte. A sua obra, os seus pensamentos e a sua própria vida falam tudo. Frases feitas ou não, o que importa é que ao ler a obra de Oscar Wilde, percebemos como ela nos domina, alertando-nos para a hipocrisia de uma sociedade, que teima em não desaparecer jamais. E esse talvez seja o maior dos motivos pelos quais Wilde permanece como uma referência até os dias de hoje.

         Cabem então boas lembranças de suas obras, feitas através de alguns pensamentos e aforismos que falam por si mesmos. 

         A seguir, uma seleção deles:
 
O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação.
 
As mulheres começam por resistir aos avanços de um homem e terminam por bloquear sua retirada.
 
A única forma de você escapar de uma tentação é cair nela.
 
Só pessoas sutis são brilhantes no café da manhã.
 
Uma verdade deixa de ser verdade quando mais de uma pessoa acredita nela.
 
Os solteiros deveriam pagar mais impostos; não é justo que alguns homens sejam mais felizes do que outros.
 
A humanidade leva a si mesma demasiadamente a sério. É o pecado original do mundo. Se o homem das cavernas houvesse conhecido o riso, a História teria sido muito diferente.
 
Os filhos começam por amar a seus pais; quando crescem, julgam-nos; às vezes, perdoam-nos.
 
O único encanto do passado está justamente em ser passado.
 
As pessoas superficiais são as únicas que têm necessidade de anos para desembaraçar-se de uma emoção. Um homem dono de si mesmo pode dar fim a um desgosto com a mesma facilidade com que inventa um prazer.
 
Quando uma mulher se casa de novo é porque detestava seu primeiro marido. Quando um homem se casa de novo é porque adorava sua primeira mulher. As mulheres tentam sua sorte; os homens arriscam a sua.
 
Um homem pode ser feliz com qualquer mulher contanto que não a ame.
 
Quando procuramos sobressair, criamos sempre inimigos. Para ser popular é necessário ser medíocre.
 
Para recuperar minha juventude, seria eu capaz de tudo no mundo, menos de fazer ginástica, levantar-me cedo ou ser respeitável.
 
Nunca entendi o sentido do termo “moralidade”, a não ser como um meio de opressão.
 
Tento não ter nenhum tipo de ressentimento social, mas não consigo evitar a inveja dos privilégios dos pobres. Eles estão livres da indigestão e do pânico na escolha do que vestir e não têm tempo para especulações metafísicas inúteis.
 
Me chamaram Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde. Outros ganham nomes, eu ganhei uma sentença inteira. Nasci com uma sentença sobre a minha cabeça.
 
Neste mundo há somente duas tragédias. Uma é não conseguir o que se quer, a outra é consegui-lo. (atribuída como talvez sendo sua frase mais famosa).
 
A única coisa que tenho a declarar é a minha genialidade (dirigindo-se aos fiscais da alfândega).
 
Viver, viver mesmo é a coisa mais rara do mundo. A maior parte das pessoas pensa que vive, mas apenas existe e subsiste.
 
Perdoa a teus inimigos. Nada os chateia tanto.
 
A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais.
 
O pessimista é uma pessoa que, podendo escolher entre dois males, prefere ambos.
 
O homem é menos ele mesmo quando fala na sua própria pessoa. Dê-lhe uma máscara e ele dirá a verdade.
 
Quando jovens, imaginamos que o dinheiro é tudo na vida. Quando velhos, descobrimos que é isso mesmo.

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