Um começo: A corrida

Já faz um tempo que tomei esse gosto por corrida. Veio agora, porque não é mais por obrigação. Na época que eu treinava volei, era um verdadeiro martírio. Cinco minutos correndo, de frente, de costas, de lado, do outro lado... A gente tentava enganar a treinadora de todo jeito. No fim das contas não tinha jeito. Corríamos fingindo que não estávamos correndo...

Hoje, que não tenho mais obrigações com atividade física começou a fazer falta e confesso que não tenho paciência suficiente para só caminhar. Acho que é um pouco por causa dessa minha alma ansiosa, querendo sempre apressar as coisas... Então correr passou a ser um hábito bom.

Eu já estava com um bom ritmo, então, veio as provas e depois o estágio de clínica. Foram mais quatro meses de sedentarismo. Sempre me consolando, porque estava difícil conciliar estudos e todo o resto... Nunca é verdade. Inventamos tantas desculpas para tudo.

Bom, então veio um estágio mais calmo, sem plantões e com horários livres. Era minha chance de retornar.

Eu achava que ia voltar com tudo. Achava que seria praticamente uma campeã de maratona... Ledo engano...

Arranjei uns exercícios de uma revista sobre o tema. Bom, para mim pareciam simples e fáceis demais. Mas queria encarar a corrida com mais, como posso dizer, profissionalismo, ou talvez seja, mais seriedade.

No primeiro dia, era assim: Trote por um minuto e andar 2 minutos. Oito repetições.

Parecia fácil demais.

Comecei bem. Passava pelas pessoas me sentindo máxima, cheia de fôlego e força.

"Como é bom se mexer." Eu pensava, felizinha com meu MP3 e uma boa seleção musical. Via como tranquilamente a natureza se deixava ser bonita, banhada pela luz da manhã. Eram seis e meia da manhã.

Estava ereta, respirava bem e deixava a adrelanina transbordar por meus vasos sanguíneos.

Primeira série de caminhada. Estava satisfeita por ser tão inteligente. A música estava boa.

Então, começou a segunda série. Tudo bem.

E comecei a terceira séria. Veio um pouco de cansaço. Já era esperado também. Talvez não tão cedo. Mas não poderia me impedir de cansar.

Uma dorzinha na panturrilha, mas tudo bem. era só meu primeiro dia.

E comecei a quarta série. Um pouco ofegante.

Quinta série: dispneica. Tudo já doia. As pessoas pareciam chatas por correrem e caminharem sem dificuldade.

Primeiro pensamento: "O que eu estava pensando?!"

Quando o minuto de trote terminou, dei graças à Deus por poder caminhar.

E o que mais parecia atraente na paisagem eram os bancos.

Os segundos passavam, e eu já parecia restaurada para a próxima série de trotes. Já respirava um pouco melhor de novo. Recuperei forças do além e reinicie os trotes.

Sexta série: "Por que eu não fiquei em casa?"

Trinta segundos depois: "Que merda de idéia!"

Mais dez segundos: "Essa porra de tempo não passa?"

Minha respiração já superava a música.

Finalmente podia andar de novo. E que alívio! Dois minutos de descanso! Pensei em parar. Olhava para os bancos desejosa. E aquela grama verdinha! ideal para deitar...

Sétima serie de trote: Meu corpo implorava para não começa-la. Mas eu estava decidida, iria até o fim! MESMO.

Dez segundos: "Não vou ter mais músculos depois disso!"

Mais vinte segundos: "Me odeio, me odeio, me odeio, me odeio."

Acho que nessa altura já tinha uma expressão de assassina. Havia superado o estado de cansaço máximo.

Terminei alguns segundos antes de completar um minuto... Definitivamente o tempo não passava.

Caminhava quase parando... Estava devagar demais. Um velhinho muito simpático, passava por mim sem grandes dificuldades. Eu o odiei também.

Tentei apertar o passo de novo. "Última série! Última!"

Final: Comecei a trotar, se é que posso chamar aquilo de trote, acho que estava mais para uma dança estranha, lenta e não sincronizada. A música já era estúpida e lenta demais, parecia que eu ia chorar à qualquer momento. Mudei, com certa dificuldade, para uma mais agitadinha.

"Droga de relógio! Que idéia idiota! Estou velha demais! Pulmão estúpido!"

Acabou. Dei mais alguns passos cambaleantes e me sentei no banco mais próximo.

Voltei para casa ansiosa pelos próximos exercícios do caderno de questões...

Jule Santos
Enviado por Jule Santos em 09/08/2009
Código do texto: T1744533
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