QUANDO O CRISTAL SE QUEBRA...

Genisclelto nunca amou na vida. E nem sentia falta. Quando entrou na adolescência fugia das meninas como fugia da cruz. Não, ele não era gay. Ele apenas temia ser dispensando pelas belas morenas, belas loiras e belas ruivas que ele tanto desejava. Já com seus dezoito anos, na flor da juventude e no ímpeto de amar, começou a se apaixonar. Porém, ele se apaixonava pelas meninas que nunca o olharam. E ele sabia disso. Na verdade, Genisclelto amava justamente a menina que ele não teria nenhuma chance. Justamente para não vivenciar um grande e forte amor. O verdadeiro namoro.

Os anos foram passados e Genisclelto se recusava a amar e gostar de alguém. Quando sabia que alguma jovem a desejava, ele não dava nenhuma chance para que eles pudessem se conhecer melhor. Ele ignorava e achava mil defeitos na moça. Era muito magra ou muito gorda. Era muito baixa ou muito alta. Tinha cabelo curto ou tinha cabelos longos. Enfim, Genisclelto queria viver a sua vidinha. Não queria compartilhar ela com ninguém.

Até que um dia, Genisclelto entrava no prédio da faculdade e esbarrou em uma bela moça. Ela sorriu, pediu mil desculpas. Ele, o mesmo. O refrigerante da moça tinha caído no chão e ele se propôs a comprar outro para ela. A bela moça aceitou e os dois sentaram em uma mesa na cantina da faculdade e iniciaram uma gostosa conversa. Genisclelto contava sobre os seus estudos, seus hobbies e de sua vida. E ela o mesmo. Tinham muitas coisas em comum. Empolgaram-se na conversa e quando perceberam, perderam o primeiro horário da aula.

Assim, todo dia eles se encontravam e conversavam muito. Genisclelto percebeu que o primeiro beijo logo sairia. E agora? Como seria esse beijo. Tantas vezes, como um adolescente, treinava um beijo falso em um copo cheio de pedras de gelo. Mas como isso estava mudando a sua vida. Assim, durante uma sessão de cinema, o primeiro beijo saiu. E Genisclelto se sentiu nas nuvens. Iniciaram um namoro.

Logo a bela moça estava freqüentando a casa do Genisclelto, estudavam juntos, faziam vários passeios. Genisclelto foi à casa da bela moça pediu o pai dela em namoro. Três meses se passaram e a primeira noite de amor era inevitável. E até nisso os dois tinham em comum. Eram virgens. Ele fez questão de pagar um motel e a noite foi maravilhosa. Genisclelto estava apaixonado e ela também. E era um amor sem ciúmes, sem cobranças e com muito respeito. Resolveram construir juntos uma mesma vida. Genisclelto nunca imaginou que teria ao seu lado uma mulher tão especial.

Noivaram e marcaram o casamento para o próximo ano, Genisclelto estava juntando dinheiro para comprar o apartamento. Um mês antes do casamento, os amigos de Genisclelto o chamaram para uma saída de despedida. Iriam a um bar e conversar. Colocar o papo em dia. Até que um deles percebeu que uma mulher olhava atentamente o Genisclelto e chamou atenção do amigo. Genisclelto não queria saber de confusão. Amava muito a sua noiva. “Que bobagem, é só um sexo casual... Depois que você casar esta vida vai acabar”. Genisclelto ficou balançado. Também, nunca teve outra mulher na vida. E a vontade de ter outras no seu “currículo” o encorajou. Aceitou...

Genisclelto amanheceu com a mulher ao seu lado e uma sensação ruim. Não a queria ali. Queria estar distante de tudo aquilo. Ele levantou correndo e não deixou a moça acordar. Retirou-se da casa dela e não sabia para onde ir. O celular dele toca e era a sua noiva. Um pânico invadiu a sua alma, como pôde trair a mulher que tanto amava. Como pôde deixar que uma única noite acabasse com tantos anos de respeito, companheirismo e muito amor. Genisclelto não teve coragem de atender ao telefone. Encostou o carro em uma praça e sentou-se em um banco. Começou a chorar. Como iria olhar para a sua noiva? Como iria beijá-la? Como iria tocá-la? Como iria dizer em seus olhos que a amava tanto? Como iria dizer que a respeitava? Calafrios, suores, tremores... Genisclelto tinha acabado com o seu noivado, tinha perdido a mulher de sua vida. Mas era só não contar... Simples assim? Não, a consciência de Genisclelto não o deixaria em paz. Contar a verdade... Dizer que só foi uma transa e nada mais? Iria perdê-la. Com certeza. Genisclelto se sentiu em uma rua sem saída. Nada a fazer a não ser lamentar.

O celular toca novamente e ele resolve atender. Era a sua noiva novamente. A sua futura esposa que iria construir a sua vida e ter lindos filhos. Genisclelto colocou o celular no ouvido e ouviu a voz suave de sua noiva. E, também, sentiu alguém puxando o celular. Genisclelto se levantou e tentou correr atrás do ladrão, mas o jovem drogado deu três tiros no peito de Genisclelto e este caiu lentamente no chão da praça. Pessoas se aglomeravam a sua volta e Genisclelto chorava. Chorava, não por estar morrendo, mas chorava por ter traído a confiança de sua noiva. O cristal quando se quebra, a magia e a beleza vão embora. Quando a ambulância chegou, Genisclelto estava morto. Genisclelto também se quebrou, a sua beleza e a sua magia não voltariam mais... Mas para a sua noiva, Genisclelto seria para sempre o seu grande e verdadeiro amor. Para sempre...

www.alexandrelanalins.com.br