DESCARREGO

Criei um vislumbre - e é este o termo porque se trata menos de uma explicação e mais de um arremedo de imagens sensitivas - do que seja o conceito da expressão freudo-lacaniana-psicanalítica 'rochedo da castração'. Uma ressalva aos purismos/puristas teóricos , e o primeiro deles quem traz sou eu, é que há momentos em que de pouco servem as formalidades teóricas. A vida é sempre maior que elas, por isso, viva a poesia e seus arremedos.

O tal do rochedo se me aparece forte diante de situações em que não acho em lugar algum garantia , sustentação , socorro que assegurem que ali se terá o que se quer. Por mais que se lute. É um rochedo imenso, adiante, que nada diz mas ali a viagem acabou.

Num primeiro momento a crença fantasística fálica de que há alguma arma que pode fazer implodir esse rochedo. Talvez a expectativa de que poderes kryptonianos se apoderarão e será possível lançar-se contra ele e, com toda a potência do mundo, rompê-lo ao meio. Castrar a castração. Em meio ao vislumbre, pelo o canto do olho percebe que tal ato só resulta em despedaçamento; não do rochedo, mas do próprio corpo.

Daí o medo e o desamparo. Talvez haja coisas que eternamente já se sabiam se assim, e de tudo se fazia de tudo para se esconder dessa verdade.

O medo vem também quando não se sabe se aquela ali é uma situação em que estamos diante do tal paredão ou não -" será que para isto tem jeito?", "vou conseguir superar os caprichos do acaso?", "vou conseguir continuar tentanto?". É isto que não entendem, e por isto tanto erram, os apressados em dizer "força, continue, a vida é assim". É preciso um mínimo de respeito quanto ao luto dos que vêem sua viagem findar, dar tempo para que se refaçam e tentem encontrar forças para iniciar/continuar/encontrar outro caminho.

Sempre há a possibilide de que se pode contornar o rochedo. Dar uma volta um jeitinho, um plano B para continuar a viagem. É possível que isso seja verdadeiro; o duro é saber quando a viagem findou mesmo e toda a sua energia está sendo gasta em se debater contra aquela parede. Haja sabedoria para separar um do outro e esta é a única oportunidade da esperança - de que somos capazes de fazer a distinção, de lamber as feridas e tentar dar a volta, encontrar uma senda. Ou então, ir por outro caminho.