INDEFINÍVEL OU VARIAVELMENTE DEFINÍVEL

Ontem, no finalzinho da tarde, em meio a uma conversa entre alguns amigos metidos a intelectuais, alguém teve a idéia de me pedir para definir o mundo. Ora, o mundo é indefinível! Pelo menos foi o que respondi na hora. E meu amigo, como percebesse a má vontade, com jeitinho foi mudando de assunto, mais para evitar seu próprio mal-estar perante o grupo do que para poupar o meu.

Mas, aos poucos, fui refletindo sobre aquela pergunta e imaginando a complexidade da resposta, até concluir que mais audaciosa do que a questão levantada seria a atitude de quem se dispusesse a respondê-la.

Como assim, definir o mundo? Perguntariam os mais jovens. Talvez porque hajam tantas maneiras e definições que é praticamente impossível escolher uma só. Pensei em responder que o mundo é uma questão de ponto de vista. Sim, cada pessoa enxerga um à sua maneira. E ele é variável conforme a disposição, o caráter, os sentimentos e a maneira de encarar a vida. Para alguns talvez ele seja um verdadeiro caos, um lugar injusto, enquanto para outros pode ser um mar de oportunidades.

Comecei a imaginar o mundo visto por diferentes tipos de pessoas, de variadas idades e profissões, e o que cada um deles acharia deste lugar. Para o executivo, um mundo de negócios. Para o pescador, uma comparação com o mar: totalmente imprevisível. Imaginei um estudante dizendo que nesse mundo nada mais se faz do que estudar e tudo isso para quê, se mal utilizamos a álgebra na vida! E assim muitos outros foram me respondendo involuntariamente, cada resposta adequando-se a seu ponto de vista e ganhando um pouco das suas características, como se o mundo se moldasse ao homem e não o homem a ele.

Olhando por esse lado, é bem verdade que, de certa forma, nossa visão de mundo é um tanto egoísta. Não nos adaptamos tanto ao meio quanto desejamos que ele se adapte a nós. Vemos o mundo da forma que melhor nos convém, sem tentar mudar o ângulo de visão, e raras são as vezes que nos colocamos no lugar do outro para entender como ele enxerga.

Ora, tudo isso deixa o mundo verdadeiramente sem graça! Se me condiciono a olhá-lo apenas do meu jeito e tomo isso como verdade absoluta, que aprendizagem levo da vida? A graça está mesmo em viver a diferença, em experimentar o novo, ver de ângulos diferentes. Mas ao que me parece, somos programados para fazer exatamente o contrário! O certo é sempre o nosso jeito, a nossa visão; a maneira do outro geralmente é vista por nós como algo no mínimo estranho.

É... Difícil definir este mundão. São tantas as definições que possivelmente não conseguiremos chegar a uma só. Mas talvez aí esteja a beleza. A vastidão, a incerteza, as pessoas, as raças, as diferenças, as igualdades; um mundo tão diferente e tão parecido ao mesmo tempo! E quase vinte e quatro horas depois de meu amigo me pedir para defini-lo, ainda não tenho uma resposta concreta. É, o mundo é realmente uma questão de ponto de vista. Indefinível ou variavelmente definível. E você, o que acha?

Beatriz Lopes
Enviado por Beatriz Lopes em 13/08/2009
Reeditado em 13/08/2009
Código do texto: T1752234