Passarela

Subiu os três degraus. Era apenas ela, não poderia contar com mais ninguém. Caminhou pelos bastidores e atravessou para o outro lado. Naquele instante, pôde sentir os olhares acertarem-lhe o rosto. Estava em uma passarela. Tentou não olhar para as pessoas, não pensava em nada, investia toda a energia em um caminhar perfeito. Embora tivessem lhe assustado, os olhares transformaram-se em carícias e há muito tempo não lhe tocavam daquela forma. Aquela distância e aquele desejo de proximidade. Sentiu-se grande, como alguém maior do que si mesma e continuou caminhando. As cabeças lhe acompanharam, estavam hipnotizadas. Não havia mais nada no mundo, apenas a mulher que caminhava pela passarela. Ela era o centro de tudo, ninguém conseguia desviar o olhar. Olhavam-na, alguns tinham inveja, outros a desejavam, outros debochavam. Mas olhavam, era tudo o que podiam fazer. Ela por sua vez, continuou caminhando, evitando cruzar o olhar com o daquelas pessoas. Encontrou um lugar vazio, sentou-se. Agora, bastava esperar que o ônibus lhe levasse para casa.