Jaguar (Individual)

Hoje quero falar sobre individualismo. Irrita-me a escravidão do “trabalhar em equipe”. É chato. É uma obrigatoriedade que pode minar o espírito criativo, tão carente de liberdade e espontaneidade. Como ser livre e espontâneo com essas correntes?

Na verdade, talvez eu esteja cheio da interdependência com outros seres. Às vezes me parece muito cansativo, muito enojadiço conviver com tanta gente, tantos carros, tantas vozes e idéias. No supermercado ou no trânsito já cheguei a imobilizar minha expressão e verificar o que ela dizia; para meu espanto era uma expressão de nojo, eu estava olhando para os carros, ou para as pessoas correndo no supermercado, com a mesma expressão de quem olha um cadáver putrefato. É triste; e nessas horas eu me pergunto se sou “normal”, se sou um sociopata ou sei lá o que.

Ainda a pouco, como eu demonstrava uma total intolerância com atividades em grupo, me disseram que eu era individualista. Eu afirmei que sim, que trabalho em grupo se necessário, mas que sim, sou muito individualista, essa é a minha natureza. Se devo mudar ou não, ou mesmo se poderia mudar ou não é a grande questão.

Sinto-me como um tigre, ou melhor, uma onça-pintada. Meu instinto natural ao que parece é viver isolado, em um território muito amplo, um tamanho gigante e uma calmaria incrível, desconcertante. Não discordo que a companhia é necessária, que não podemos nos isolar. Mas assim como o grande felino, não preciso de MUITA companhia. Basta um encontro furtivo algumas vezes ao mês, ou ao ano; satisfazer necessidades básicas, físicas ou afetivas, e aí já estou bem, completo com minha calmaria.

É tudo muito agitado, muito sem sentido. Muita informação e pouco conhecimento, pouca sabedoria. Não gosto de conversar com a imensa maioria das pessoas. As poucas com a qual consigo ter algum interesse apresentam uma das duas qualidades que aprecio: têm coisas interessantes e novas para me contar ou sabem me ouvir. Me parece que em alguns dias, como hoje, por exemplo, essa minha repulsa torna-se muito evidente, muito clara para todos. Então as pessoas têm diversas reações, conscientes ou inconscientes.

Algumas parecem desafiar essa minha repulsa, e vêm falar comigo mais vezes que o normal; na verdade muitas vezes. Querem contar, perguntar e pedir e eu quase enlouqueço entre a vontade de mandá-las para o inferno e a responsabilidade de não perder a estribeira, o trabalho, a família, etc.

Oh, é tudo tão banal! Dizem-me tudo, me explicam tudo. Todos os interesses, as divindades, as energias, as ações sociais, a alegria, os filhos, o trabalho, o lucro, o desejo; e tudo me parece banal. Mesmo o território gigante e a cópula sazonal não me parecem tão interessantes por um momento (se bem que sem experimentar não dá para concluir).

No geral, é isso. Então escrevo para exprimir, para aliviar o tédio, para sair da inércia que tanto me aflige. É sincero, é forte. Às vezes chego a questionar: serei eu naturalmente descontente com a realidade, bem mais que a média? Ou será que apenas estou numa segunda-feira chata, e devido a uma super-sensibilidade ou alguma disfunção cerebral aumento o sentimento de segunda chata milhares de vezes, como um potentíssimo amplificador, e então ela transforma-se em caos existencial?

É uma situação angustiante, apesar de ter sua eterna promessa de solução. Sou incrivelmente hábil para formular perguntas, sou praticamente um deus do questionamento! Por outro lado; não consigo produzir UMA resposta sequer. Pergunto tudo e não respondo nada.