COMO DIZIA DANTE...

Dante Alighieri, o grande poeta italiano, que viveu no século XIII e escreveu a não menos grandiosa obra “A Divina Comédia”, possui uma fala a ele atribuída que diz: "No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise." Ou seja, fingir que nada está acontecendo, tapar olhos e ouvidos diante de determinadas crises, não tocar no assunto é, no mínimo, omissão. Pois bem, por mais que já se falou, por mais que já se indignou, por mais que já se enojou, não dá pra não falar das barbáries que vêm acontecendo no nosso Senado Federal. No entanto, falar do que por lá vem acontecendo seria chover no molhado, por isso, resolvi mudar o foco neste artigo. Vejamos pelo lado bom da coisa (se é que isso é possível!). Tentemos nos abstrair caro leitor, dessas barbáries, e tirar algum proveito desse Circo de Horrores.

A começar pelo vocabulário “riquíssimo” que temos tido a oportunidade ímpar de conhecer. Afinal, engordar nosso vocabulário nunca é demais! Sendo assim, recolhi algumas “pérolas” para compartilhar com vocês. Vamos a elas.

Nas últimas e inflamadas sessões do Senado, nossos parlamentares têm usado palavras, digamos, diferentes do nosso vocabulário cotidiano. Por exemplo, o ex-presidente e hoje Senador Fernando Collor, no auge de

seu furor contra o Senador gaúcho Pedro Simon, o chama de “Parlapatão”. Recorrendo ao velho e bom dicionário, diz-se de “pessoa que gosta de contar vantagem ou de mentir para se promover”. Humm, algo mais apropriado para os cercames do Senado? Outra palavrinha usada no bate-boca foi “Cangaceiro”. Tudo bem, essa já é mais conhecidinha. Portanto, diz-se de “malfeitor, bandido do sertão nordestino”. Alguma semelhança caro leitor? Não, não, é mera coincidência!

Continuando minha garimpagem pelos textos afins, surgiram outras palavras desconhecidas também, como, “Vitupérios” (cadê o Aurélio, pelo amor de Deus!). Calma, calma, posso saciar logo sua curiosidade. Vitupério quer dizer “insulto, injúria, ato vergonhoso ou infame”. O autor do texto usava este substantivo para nomear a tal sessão do plenário do Senado. A que ponto chegamos!

E ainda vem por aí, “Fisiologismo”, que é “um tipo de relação de poder político em que as ações políticas e decisões são tomadas em troca de favores, favorecimentos e outros benefícios a interesses individuais”. Outra coincidência? Imagine amigo leitor, você está sonhando. Ainda temos a palavra “Nepotismo”, bastante conhecidinha também, que nada mais é que o “favorecimento de parentes e amigos à nomeações em cargos públicos”. Palavrinha que o tão letrado Presidente do Senado José Sarney, insiste em dizer que não conhece!

Bem, em resumo, vocês viram que novas palavras puderam ser acrescentadas ao nosso vocabulário, de uma forma ou de outra. Pelo menos isso vale alguma coisa!

Voltando ao grandioso Dante Alighieri, afora esses ensinamentos todos que nossos políticos nos proporcionaram, que nem o Paraíso, nem o Purgatório, mas que lhes sobrem apenas o Inferno. Não o de Dante, que é uma obra riquíssima e não merece tal atrelamento, mas que eles queimem nos infernos de si mesmos!

-Crônica publicada no jornal Voz da Terra, da cidade de Assis, em 19 de agosto de 2009