O gafanhoto

Hoje, subindo as escadas do prédio em que moro tive a mais triste cena desde que me lembro. Enquanto colocava a chave na fechadura olhei para a escada e vi um pequeno gafanhoto esmagado. Pisado. Não sei por quem. Pode ter sido por mim. Não importa. Não consegui abrir a porta olhando para ele. Mas, pra quê?! Ora, há um gafanhoto diante de mim! Morto. No vai e vem da vida, na correria para ir e voltar da faculdade alguém (talvez eu) o esmagou. Isso me fez ficar alguns minutos contemplando aquele serzinho. Sem vida. Em meio às preocupações, distrações, e, sei lá mais o quê, posso ter matado alguém que não tem culpa dos meus problemas.

Ao entrar no apartamento, minha noite poderia ter sido menos pior (perdoe-me, a gramática) se ao sentar para fazer um trabalho da disciplina de Ética eu não lesse que mais de 10 mil pessoas morrem de fome por dia. Porém, claro, a culpa não é minha. Mas...

Aquele gafanhoto e essa informação me fizeram lembrar que essa minha vidinha de 19 anos não é o centro do universo. Que há outras pessoas que não sabem o que vão comer amanhã. Que não conseguiram estudar para a prova de grego. Que estão com crise no namoro. Que não se sentem amadas. Enfim, o mundo não se resume na minha faculdade, minhas dívidas e meus problemas. Ele é maior.

Bem, sei que isso vai passar. Em alguns minutos terminarei esta crônica, e estarei novamente no meu mundo. Mas... se eu vier a esquecer das pessoas que passam fome no mundo... espero pelo menos, sim, pelo menos não esquecer tão cedo aquele pequeno... gafanhoto.

Ed Lewis
Enviado por Ed Lewis em 20/08/2009
Reeditado em 28/08/2009
Código do texto: T1765079
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