JANTAR A LUZ DE VELAS

Talvez a modesta moda do famoso jantar a luz de velas pegou nas moças que se acham donzelas. Não sei se para o dia seguinte comentarem às amigas ou pelo prazer de se sentir realmente uma mulher de classe fina.

Após uma briga, ela aproveitou para pôr em prática seu plano, então disse ao namorado que daria uma segunda chance para ele, mas ele teria que levá-la à um restaurante fino da cidade. Queria reatar o romance a luz de velas. O namorado, que era dono de uma "churrascaria" (vendia churrasquinho na esquina), logo pensou alto:

- Jantar a luz de velas? O que eu vendo em um mês não paga nem a metade da conta.

Mas estando ele completamente apaixonado concordou com a exigência da namorada. O famoso jantar foi marcado para sexta-feira, mas desde terça-feira só se ouvia a menina comentar do jantar a luz de velas, se exibindo, poderosíssima, como se fosse a primeira e a última a jantar sob as luzes de velas.

O comentário na vizinhança aumentava, e a menina parecia ter ganhado na loteria, ou iria comer algo de ouro mastigável. Faltando um dia para o famoso jantar, ela pergunta ao namorado:

- Você não tem carro, então ao menos de taxi nós iremos, não é, amor?

- Clara, vida, o que eu não faço por ti? - respondeu o apaixonado namorado.

Chegando, então, o dia mais esperado do ano, e na hora marcada, um táxi encosta no portão da casa da menina. Ela sai ao portão toda produzida, maquiada e perfumada. O taxista lhe abre a porta e o namorado já a esperando dentro. Após o táxi partir, os fofoqueiros logo previram o dia de amanhã, o dia inteiro ou até mesmo a semana toda: ela só iria comentar do jantar a luz de velas.

Chegando ao restaurante desejado, ambos descem do táxi. Após o rapaz pagar a viagem seguiram rumo àquele fino restaurante. Ao entrarem foram recebidos pelo garçom, que logo lhes indicou a mesa. Pensativo, o rapaz faz uma pergunta:

- Amor, sempre brigamos e reatamos, mas sempre sou eu quem peço para você voltar, não me ama?

A menina nem se deu conta das palavras do rapaz, pois já estava com o cardápio aberto e automaticamente fazendo a sua escolha.

- Amor, você sabe que eu te amo, não é? Então peça o que quiser, sem se preocupar com a conta, combinado? - completa o rapaz.

- Combinadíssimo, amor! - responde a menina, explodindo de tanta euforia.

Após pedir uma fritada de camarões, suco de laranja, coca-cola light, uma boa porção de salmão e caviar acompanhado de um belo vinho, o garoto pergunta:

- Satisfeita, amor?

- Muito! Agora, gostaria de pedir a sobremesa. - responde a garota admirando todo o restaurante.

- Tudo bem, amor, faça o pedido que irei ao banheiro.

- Tudo bem, meu amor!

Era a primeira vez que ela tinha freqüentado um restaurante e, sem saber como chamar o garçom, se levantou e começou a acenar, fazendo com que muitos ali presentes pensassem que ela estaria se despedindo do namorado. Passando alguns minutos, o garçom veio com a conta:

- Senhora, no cartão, cheque ou dinheiro?

- Não irei pagar, ainda falta a sobremesa.

- Desculpe-me, senhora, mas a senhora não chamou a nossa atenção? O que mais a senhora deseja?

- Mousse de maracujá.

- Tudo bem! - disse o garçom, indo buscar o pedido da "senhora".

Após mais alguns minutinhos, chega o mousse de maracujá. A garota numa alegria, sentindo-se uma princesa, devora o mousse, sem se preocupar com o namorado.

Depois retorna o garçom com a pergunta:

- Senhora, deseja mais alguma coisa?

- Não, obrigada! Só vou esperar o meu namorado voltar.

Um casal que chegou depois paga a conta, se levanta e vai embora. O lugar começa a ficar vazio, até que por final só se encontra ela no salão. Aflita, ela pergunta:

- Garçom, será que não aconteceu nada com o meu namorado? Ele foi ao banheiro e até agora não retornou.

O garçom foi ao banheiro e não encontra ninguém, logo chama-a e pergunta:

- Afim de aplicar golpes, é?

- Eu, aplicar golpes? Veja como fala comigo! - repreende a garota, mostrando que é mulher do século XXI.

- Teu namorado é um fantasma? - pergunta o garçom, com ironia.

- Aquele cachorro foi embora? Não acredito!

Entre foi, ou não foi, o caso foi parar na delegacia e ficou constatado que a garota lavaria louças por trinta dias no restaurante.

O comentário na vizinhança era provocativo.

- Para quem nunca tinha ido à um restaurante a luz de velas, até que agora ela vai, mais do que imaginava.

Romano Júnior
Enviado por Romano Júnior em 23/08/2009
Reeditado em 05/08/2012
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