Tempos de criança

Quando minha mãe dizia que em seu tempo de criança o rádio era muito diferente, eu não entendia direito. Ela contava que havia um aparelho grande dotado de dois fones e que só duas pessoas podiam ouvir a música ao mesmo tempo, cada qual com um deles colado ao ouvido.

No meu tempo, o rádio também era diferente dos de hoje. O aparelho era quase do tamanho de uma televisão, mas de madeira. Já não vinha com aqueles fones e todo mundo que estivesse por perto podia ouvir as músicas, assim como os noticiários e tudo o que fosse transmitido. Eu, ainda pequena, ficava intrigada, não compreendendo como é que um homem ou uma mulher podiam falar dali de dentro. Meus pais me explicavam que as vozes vinham pelo ar, mas aquilo era muito complicado.

A televisão não existia por aqui, nem esses aparelhinhos todos que conhecemos hoje em dia. Não tinha vídeocassete, nem vídeogame, nem forno de micro-ondas. Não existia computador, agendas eletrônicas, telefone celular, coca-cola, nada disso. As crianças tinham é que inventar brincadeiras e brincar no quintal. Andar de bicicleta, jogar bola, nadar, brincar de casinha, subir em árvores, eram grandes diversões. Os meninos jogavam futebol, as meninas pulavam corda ou brincavam de roda cantando. Os meninos chateavam e as meninas choravam, isso foi sempre igual.

(escrito em 1991)