Meu companheiro de todas as horas

Tinha uns sete anos, mais ou menos, quando o ouvi pela primeira vez. Agudo, intermitente e irritante. Falei para a mãe, mas achou que era alguma invencionice de criança, e ficou por isso mesmo. Acho que sumiu durante um tempo, ao menos não está na minha lembrança. Na adolescência, voltou mais forte e virou o indesejável companheiro dos silêncios. Pensei em contar para meu pai, mas, antecipadamente, sabia que seria bobagem, pois ele, com o carinho, a compreensão e a empatia que lhe eram peculiares, certamente diria algo reconfortante: “Ach!”, e ficaria por isso mesmo. E ficou. Até hoje.

Tem dias que é mais ameno e suportável, tem dias que não dá pra agüentar. Quanto maior o silêncio, mais ele incomoda, ou seja: silêncio absoluto é tortura.

Achava que era só eu, até uma pessoa me falar que apareceu um zumbido irritante no ouvido e foi a muitos médicos para tentar curá-lo. Curioso e esperançoso, perguntei o que disseram: “Que eu teria que me acostumar”. Tóimmmmm.

Agora descobri que o tal do zumbido ataca mais de 20 milhões de brasileiros, ou seja, tenho companheiros. Do Oiapoque ao Chuí. Pior, achavam que uma das causas era uma degeneração do cérebro! Está explicado... Parece que algo como 15% da humanidade sofre do problema. O clube, portanto, é grande; se nos uníssemos, acabaríamos com as guerras e os exploradores religiosos. Parece que a falta de alguma vitamina também pode ser a causa. Se eu comer mais saladas, viro coelho. Com zumbido. Imagine o tamanho do zumbido nas orelhas de um coelho!

Mas estão a testar algumas terapias, uma delas tenta enganar o cérebro aplicando uma fonte de energia de alta potência em algumas regiões, outra é a estimulação elétrica da via auditiva.

Os especialistas dizem que o melhor a fazer é manter sempre algum barulho por perto, assim o cérebro presta atenção ao barulho e esquece o zumbido. Algo assim como combater uma valsa constante com um “hard rock” para não ouvir a valsa. Bela terapia!

Falaram que ouvir Pe. Marcelo e breganejo todo dia, cura o problema. Não sei por que, mas agora esse zumbido me parece tão agradável!