Devassa

Devassa.

Ouvi esse elogio uma vez. Entre quatro paredes. De quatro, claro.

Eu gosto de palavras pesadas naquela hora. É, na hora do enrosco, do vai-vem controlado de propósito, descontrolado em seguida.

Mas essa palavra me deixou encafifada.

O que é, exatamente, uma pessoa devassa? Será que é uma que gosta de ser chamada assim, enquanto está fazendo um boquete?

Tá, eu sei. Assunto malhado. Mas não pude evitar. Andei lendo “O retrato de Dorian Gray”.

Até que ponto a devassidão, a luxúria, a busca pelo prazer podem corromper um ser humano? Quando ele ultrapassa os limites de outro ser humano, prejudicando, incitando, influenciando? Quando alicia soldados para hordas de libertinos...?

Fico confusa.

Sempre falo de amor, e prazer nas pequenas dores. Sempre falo de desejos secretos de sanguinolência e perversão. Acredito na beleza, e vivo para buscá-la, nem que seja nas sarjetas. Acho Sisters of Mercy poético. Vozes roucas falando sobre putrefação e despedidas.

E, ainda assim, acredito na pureza das almas. Acredito na sinceridade das pessoas. O mal pode ser belo , desde que seja sinceramente mau.

Me senti trespassada. Era realmente uma lança que me atravessava o corpo naquela hora. Fechei os olhos, e gozei como nunca.

D-E-V-A-S-S-A.

Cuidado.

Oscar Wilde pode ser terrivelmente venenoso, venoso, venéreo.

Plástico, sintético, ofensivo, modismo.

Foi paixão na certa.

Roberta Nunes

18/05/2005

Roberta Nunes
Enviado por Roberta Nunes em 18/05/2005
Reeditado em 21/05/2005
Código do texto: T17728
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