A era fria

Seria lugar comum, isto é, nenhum achado, se afirmar que a mente humana é deveras surpreendente! Todos sabem que é, e isso em nada reduz o sentimento de êxtase ao se contemplar a criação divina, até porque o homem (mais uma redundância) é parte dela. Vivemos o encantamento proporcionado pelas criações da civilização e logo depois nos adaptamos aos avanços tecnológicos e a comodidades contemporâneas sem percorrermos praticamente nenhum trecho do custo desses benefícios. É possível que isso nos tenha tirado a capacidade de evoluir nas reflexões das variáveis humanas numa proporção semelhante à da tecnologia. Esse pensamento encontra fundamento quando constatamos que muitos dos avanços tecnológicos se dão sob a motivação da guerra, na acepção da palavra, ou da guerra fria, como foi o caso da corrida espacial. Quanto aos pensamentos, ainda nos utilizamos de idéias muito mais antigas. Não que precisasse serem novas para serem boas, mas esse descompasso revela o tipo de prioridade que mobiliza as energias humanas. Ainda assim, sem que necessariamente consideremos que esses interesses estejam competindo pelo intelecto, temos constatado a atrofia da evolução filosófica humanística em comparação com a tecnológica. A vitória da competição pela ascensão travestida de sobrevivência parece justificar o pragmatismo nefasto sobre o altruísmo construtivo e cordial. As iniciativas com este objetivo, via de regra, são consideradas emotivas e descartáveis à primeira dificuldade. Afirmativas como: “O prêmio Nobel de física “é mais sério” que o da paz”. “A faculdade de Engenharia vale mais que a de História”, enfim, números valem mais que letras tem sido a marca desses tempos de competição acirrada por algo que não é exatamente sobrevivência. Pessoas desprovidas dessas armas sentem-se muitas vezes encolhidas por sua aptidão ser a de “perdedores”, quando não optam por estilizar o talento em atividades marginalizadas. Quem sabe, quando estivermos num apogeu de desenvolvimento tecnológico que não precisemos nos preocupar sequer com ambições menores de poder possamos crescer como seres inteligentes de verdade e adotarmos a fraternidade como a meta de uma nova era?