No Cinema

Faz muito tempo que não vou à uma sessão de cinema.

É que da ultima vez aconteceu algo extremamente frustrante:

Fomos ao cinema eu e minha esposa, assistir um filme de comédia.

Seria uma coisa normal se a platéia daquele dia não fosse um tanto quanto apática, amorfa e desanimada. Parece que todos estavam de mal com a vida, menos eu e de quebra minha envergonhada esposa.

Dá para imaginar o motivo pelo qual ela sentiu vergonha?

Eu não resisto e vou contar:

O cinema não estava muito cheio. Umas vinte pessoas timidamente espalhadas pelas poltronas.

O filme era bom, de um humor sutil, e inteligente. Não era daquelas comédias que a gente ri e depois esquece, nem necessariamente ficamos com dor nos músculos abdominais de tanto gargalhar, mas tinha cenas realmente hilárias, de cair da poltrona.

Eu sempre fui bem humorado, falastrão e de riso fácil. Difícil me verem aborrecido ou com expressão dura no rosto, mesmo nas ocasiões mais difíceis sempre foi possível encontrar um sorriso escondidinho entre as caretas do cotidiano.

Não foi diferente nesse dia. E ainda mais porque o filme era muito bom.

Fui disposto a rir e foi exatamente isso que eu fiz.

O problema é que ou o enredo era muito complexo, ou era sem graça, ou eu estava bobo naquele dia, porque somente eu ria, e muito, em cada cena ou situação do filme que eu considerava engraçada. Ria às gargalhadas, mas ninguém mais ria.

Cheguei a ouvir uns “psius” e gritos sussurrados pedindo silêncio.

Tudo em vão: mais pediam, mais eu ria.

A situação em si também ensejava a graça.

Minha esposa ia se afundando na poltrona, não prestava mais atenção ao filme, dando-me uns beliscões de quando em vez.

Finalmente, o filme terminou e as luzes acenderam. Meu braço estava roxo mas eu estava de nariz empinado porque, pensava, eu tenho direito de assistir uma comédia e rir das situações engraçadas.

Saímos e paramos para comprar balas. Comprei uma rosa para compensar a tensão pela qual minha esposa passara. Não adiantou! Foi a última vez que fui ao cinema.

Almir Ramos da Silva
Enviado por Almir Ramos da Silva em 25/08/2009
Código do texto: T1774100
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