Woodstock. Mudou alguma coisa mesmo?

Woodstock
Ao ver entrevistas de quem estava lá, há cinqüenta anos, chamou-me a atenção a resposta dada por alguns homens à pergunta feita do que eles mais tinham gostado no festival.

E a resposta foi de verem as mulheres nuas.

Acredito que estes casos foram isolados e que a maioria dos verdadeiros malucos que lá estavam já curtiam uma relação melhor com seus pares, de parceria, na forma de uma intimidade afetiva maior, libertas dos preconceitos religiosos, sociais e familiares e com mais companheirismo, na ‘paz e amor’ mesmo, e não no conceito que se passou de libertinagem.

Com certeza aquelas mulheres que se expuseram nuas ‘viajaram’ na maionese e no embalo perderam o bonde, pois o caminho não era esse.

O amor livre pregado não era no sentindo de libertinagem, assim vejo, mas sim terem relações sem precisarem estar com sentimentos de culpa como era até então e procurarem levar uma nova vida de forma alternativa, em comunidades, longe das guerras idealistas, muito mais comuns naqueles períodos, etc.

Na minha época de adolescência, inicio dos anos setenta, a menina que transasse com algum namorado ficava estigmatizada e muitas vezes o próprio, quando mau caráter ou para se auto-afirmar em grupos é que saia contando vantagem e a garota tinha que mudar de cidade.

Vivenciei casos. A garota virava caça livre. O ser humano não era levado em consideração. Tudo eram interesses vis.

E o chamado amor livre era sem este estigma e era neste sentido e não que as pessoas ficavam transando de forma depravada.

Este foi um conceito passado distorcido por aquelas ‘peladas’.

O amor era livre, pois não se precisava mais dar satisfação para se estar com alguém e as mulheres também não se sentiam mais estigmatizada.

A caretice predominante nestas respostas das entrevistas mostra a força que o corpo da mulher, usado negativamente, sempre teve sobre o homem e na história da humanidade. Mesmo num local onde estavam acontecendo tantas transformações alguns só lembram-se das ‘peladas’ e foi onde que a mídia só focou também, deturpando algo que surgiu natural.

E isto mostra também como o homem também sofria da mesma repressão alentada pelas mulheres e como existia um ‘monte de caretas disfarçados de malucos, nas idéias, lá no festival’.

Malucos de raiz lá, com certeza, eram poucos. Eu não digo isto no sentindo de usar droga ou não e sim em um sentindo mais amplo de visão e pensamento.

Eu tive uma experiência parecida num festival em Palhoça SC, onde passamos, se não me engano três dias, curtindo-se bandas.

Para mim aquilo tudo foi uma vivência a mais  para os meus, ainda, poucos anos.

Só foi mais um dos caminhos em busca das minhas respostas.
Eu não era tão atirado em drogas, tinha meus limites, só as naturais e mesmo assim estas me atraíram por pouco tempo e não vi nada desabonador ou de forma aberta no festival. Existia sim muitas pessoas com cabeças diferentes como era de se esperar naqueles festivais.

Estava eu lá, meio perdido, naquele meio, quando uma banda começou a tocar umas músicas que eu não gostei, passando conceitos irônicos sobre pontos de vista espirituais que eu apreciava.
Eu não freqüentava nenhuma religião, mas estava pesquisando todas as linhas filosóficas que eu ia vendo pela frente.

Não sabia ainda o que estava procurando e aquela banda, aquele cantor, parecia que cantava aquelas músicas olhando diretamente para mim, ali a alguns metros do palco, como que perguntando o que eu estava fazendo ali.

E escutando as músicas e não gostando, eu simplesmente me virei e me sentei de costas para o palco em sinal de repúdio. Foi um movimento natural que mexeu comigo interiormente, mas sem nenhuma intenção de chamar a atenção, mas algumas ‘minas’ que estavam próximas se achegaram atraídas para em reconfortar.

Mas estas “minas” se chegaram e uma até deixou uma maçã para eu comer e um dos caras que tinha ido comigo e que seria um 'maluco da gema' se aproximou e falou ‘olha as minas aí cara, vamos aproveitar e convidar para ir para a barraca’.

O cara não sacou nada do que estava acontecendo e ai eu vi que de maluco mesmo, de mentalidade diferente para a época, eram poucos, muito poucos.

Não que namorar umas meninas não fosse legal, mas sempre vi de forma natural. Deixa rolar que as coisas acontecem de forma natural se for para acontecer.

A maioria só fumava uns baseados, mas interiormente eram os mesmos, só que com cabelo comprido e sob a proteção dos pais na hora que apertava o cerco.

A liberalização ansiada na época, por muitos, era muito mais do que só arranjar parceiras para sexo. Os homens estacionaram nestes primeiros momentos daqueles anos.

A revolução aconteceu visivelmente para o mundo feminino. Este sim se libertou de muitos jugos, mas o homem, na maior parte, só quis tirar proveito desta transição, se é que tirou, como sempre, e ficou para traz.

Hoje está se pagando pelos conceitos mal entendidos e distorcidos ocorridos naquela época, pois está se vendo que a liberalização também não foi o caminho para aproximar o homem e a mulher, que estão cada vez mais falando línguas diferentes e a ponte que os deveria unir está cada vez mais intransponível.

O homem está assustado e blindado e as mulheres cada vez mais exigentes não encontram no mercado o príncipe idealizado e que não existe e que já perderam a pose faz algum tempo, pois elas passaram na frente e parceria sexual não é amor.

O homem ficou para traz e neste assunto eles, que nem os pescadores, falam muito, demais mesmo, poluindo o mundo fino que os envolve.

Sei, pois felizmente só casei com idade avançada e tive bastante vivências neste sentido.

Está na hora dos homens darem o seu grito de independência e fazerem também a sua revolução interior e não ficarem tão subjugados a um instinto físico, instigado por todos os meios de comunicação, que os tornam escravos e não fazer dele só o que o atrai a uma mulher.

Tudo aquilo que o ser humano perde o controle se torna nocivo.

E o que era nobre se tornou lascivo.

E partindo deste principio, o casal humano tem poucas expectativas de uma vida afetiva que seja longeva.

A liberalização sexual não os tornou mais próximos, pelo contrário, passando a bonança, os condenou cada vez mais ao atual antagonismo.

A sombra da insatisfação e da desconfiança está sempre presente nas relações.

Ninguém está sabendo mais o que é certo e o que é errado para mantê-las.

Esta havendo a necessidade de se voltar novamente à simplicidade na relações, mas muitos dirão, e com razão, mas de que forma?

O homem e a mulher precisariam dar este passo e será que ainda há esta possibilidade?

Não valorizar o instinto instingado de tantas formas visuais e escritas. Se livrar deste jugo milenar para voltar a ter pureza nos seus sentimentos e uma vida conjugal normal e voltar a ter perto de si a verdadeira feminilidade, a verdadeira companheira de suas vidas, única forma de serem realmente felizes.

'A felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo' Roselis Von Sass - graal.org.br

HAMILTON SERPA
Enviado por HAMILTON SERPA em 25/08/2009
Reeditado em 08/09/2009
Código do texto: T1774517
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