CELEBRIDADE (A Belchior)

O mundo vem mudando em passos rápidos. Observo que estão mudando costumes, conceitos, valores. O conceito de celebridade em nosso país, hoje, aplica-se aos atributos siliconados; corpo perfeito e voz muda; inteligência atrofiada; visão restrita de mundo. Assim, calam-se as aves de cantos melodiosos, castram as asas das borboletas coloridas, e, só escutamos o lamento do vento.

Vendo, na televisão, a busca pelo paradeiro do Belchior. Feliz fiquei quando este foi localizado ontem (30.08.09) no Uruguai. Este, surpreso, por estar sendo procurado. E, mesmo sorridente disse não entender o porquê da procura, pois ele não é celebridade. Deu até pra sentir uma ponta de ressentimento em sua voz.

Lamento a televisão brasileira, empenhar seu trabalho para mexericar na vida das pessoas, ao invés de ser um agente para elevar os grandes nomes dos nossos artistas. Pois todas as perguntas indiscretas fizeram ao Belchior, mas esqueceram a principal: se ele estava bem. Que importância tem as contas que uma pessoa deve, se ela está se escondendo, fugindo. Cada um tem seus motivos para momentos de reclusão. E, acredito que, a própria mídia, se encarrega de fazer a sua parte negativa para afugentar os grandes nomes de compositores e músicos brasileiros. Pois, quando esta põe em destaque as celebridades siliconadas, camuflando a cultura, engasgada, nas gargantas de tantas potencias. A estes cabe isolar-se, de tanta vergonha. E vão procurar apoio em terras estranhas, já que são escorraçados na sua.

E assim acontece com tantos, que seria impossível relacionar aqui. Quantas vozes caladas; pensamentos deletados; idéias levadas pelas ondas do mar; ideologias castigadas.

Por isso ecoa em bom som: que mundo é esse que despreza grandes talentos e enaltece a cultura do rótulo sem conteúdo? Apenas embalagem elegantemente vazia. Cadê o respeito aos que tem conteúdo de sobra para apresentar e representar, no mundo, o nosso tão castigado Brasil.

É, meu caro e grande poeta Belchior, aqui se vive a inversão de valores, onde o bom é ruim e vice-versa. Entretanto, em nós bate um coração cheio de amor. Por isso sabe distinguir o bom do ruim. E, você é parte da boa música popular brasileira.

Foi com você que descobrimos esta frase de amor: “foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez a sua mão” e também conhecemos o rapaz latino americano cheio de sonhos e com pouco dinheiro no bolso. Quem sabe se você tivesse tido parentes importantes, hoje, poderia contar outra história. Se é que você gostaria de contar diferente.

Bom, o fato é que você estar vivo e bem, ao lado de sua esposa, buscando desenvolver seu trabalho em paz, longe do país que deveria te por em berço esplendido pela grandeza que és. Quem sabe, outro país mais esperto, não te descubra e te dê o valor que você merece.

Aqui sempre vai ecoar suas melodiosas canções de amor, esperanças, saudades e questões sociais. Pois, você soltou seu grito ao mundo e quem ouviu jamais o esquecerá. E quando voltar a terra dos contrários certamente muitos estarão de braços abertos para recebê-lo.

Fátima Feitosa
Enviado por Fátima Feitosa em 31/08/2009
Reeditado em 07/09/2009
Código do texto: T1784480
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.