Acharam o Belchior

Foi numa pousada desconhecida cheia de famosos ocultos, em alguma vila pacata do Uruguay, que acharam Belchior e o avisaram: o Brasil o procurava!

- Por quê? - Queria saber o ilústre cantor que um dia confessou que morria de medo de avião - Quando eu morava por lá, ninguém lembrava de mim; agora sabem até onde deixei o meu carro abandonado. Por quê?

- Ora: o preço da fama, meu caro! - respondeu Elvis - Eles só nos dão valor quando estamos mortos ou desaparecidos. Não é, Michael?

- Fala baixo, sogro! - disse Michael, com a sua eterna máscara, dessa vez, devidamente protegido da gripe suína - É sim, Elvis! Pode acreditar, Belchior! Eles não se importam com a gente, não importa de você é branco ou negro, até o dia em que você "desaparece"; então os seus discos esquecidos se tornam discos de platina da noite para o dia.

- Só se for na Terra do Tio Sam, Michael, pois no Brasil é diferente, não é Raul? - pergunta Belchior.

- Isso mesmo, Belchior! Os meus discos só voltaram a vender agora 20 anos depois que "morri". Isso é uma tremenda sacanagem, bicho!

- Você não tem o que reclamar - disse Renato Russo, na cadeira ao lado de Kurt Kubain - Os seus discos podem até estar longe do Hit Parade, mas nunca ouvi ninguém gritar nos shows: "Toca Renato!"

- Isso cheira a espírito adolescente! - disse Kurt - Queria mesmo que os meus discos fossem respeitados e "eternos" como o do Freddie. Cadê o Mercury, By the way?

- Onde mais? - disse Belchior - No quarto do Cazuza!