A TARTARUGA E O POSTE

A “sabedoria popular”, muitas vezes, com sua simplicidade diz muito mais. Mais do que teses de doutorados, estudos acadêmicos, especulações de sabichões de plantão. Certa vez, um velho carroceiro do interior gaúcho enquanto transportava um jovem médico recém chegado da capital para o hospital da pequena cidade, sem mais nem menos disse: “Elle é uma tartaruga em cima do poste.”

O jovem médico, surpreso, perguntou por que ele dizia isso.

- “É que quando vejo uma tartaruga em cima do poste me pergunto: como é que ela chegou lá?”

O jovem médico, que não havia jamais pensado nisso, até porque nunca vira uma tartaruga em cima de um poste, apenas olhou para o velho que apenas sorriu e continuou: “quando o senhor vê uma tartaruga em cima do poste, o senhor não acredita que ela esteja lá; mas se ela está lá, o senhor sabe que ela não subiu sozinha. E também sabe que ela não deveria e não poderia estar lá. Isso porque ela não vai fazer absolutamente nada enquanto estiver lá em cima. O senhor, doutor, pensa,pensa e não consegue entender porque colocaram aquela tartaruga lá em cima do poste. Assim o que nós temos que fazer é ajudar a tartaruga a descer de lá, e providenciar para que nunca mais ela suba porque, definitivamente, lá em cima não é o lugar dela.”

O jovem médico com o olhar perdido no horizonte, refletia sobre a metáfora do velho carroceiro. Depois de certo tempo ouviu:

-“Doutor, disse o velho interrompendo a meditação do jovem médico, o senhor sabe qual é o tipo de sangue dElle?”

-“Não, não sei, disse espantado com a inusitada pergunta.”

-“É A (pegado), disse o velho carroceiro. E o dos eleitores dele é O (tário).” E deu uma gargalhada debochada.

O jovem médico riu um riso misto de concordância e admiração.

-“Mas é mentira doutor, disse o velho carroceiro em tom sério. É o povo que inventa essas mentiras doutor. A verdade é que o sangue dElle é B (eneficiado) e, o dos eleitores dele, é AB (estalhado). É doutor, a mentira tem pernas curtas, língua presa, barba branca, mas na mão esquerda falta um dedo”.

Depois da curva já se podia ver a cidadezinha. No silencio do campo apenas ouvia-se o trote do cavalo pisando o chão batido da picada. E mais a frente via-se uma tartaruga atravessando lentamente a estrada sem nenhum poste.

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 01/09/2009
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