O SÁBIO DESCONHECIDO

Debaixo de um sol ameno ou escaldante, nas manhãs de todos os dias muitos trafegam pelo mesmo caminho. Alguns, na correria, nem percebem que um outro alguém transita e disputa o mesmo espaço, em momentos diferenciados. Cabisbaixos, pensativos, distante do local em que, no momento, habitam, fogem da realidade em pensamentos que envolvem instantes de preocupações, transportando-se para galáxias inabitáveis, inconscientemente se transformam em autores surrealistas, à procura de uma definição de tempo e de espaço, até então nunca vistas.

Oi... olá... bom dia, cumprimentos intimidados pelo medo de perderem a hora, trava batalha entre a labuta do dia-a-dia e a certeza do agora, deixando bem claro que o futuro não lhes possibilita viver o Carpe Diem tão exaltado nos tempos de outrora, época dos que tinham por incerto o dia de amanhã.

Para os contemporâneos, integrantes de uma correria incansável, muitas vezes, sem perspectiva, o agora é o alicerce para o futuro, deixando vácuos em cada segundo. Quem sabe uma palavra a mais alguém desejou proferir, uma palavra a menos, impediu outro alguém que alimentou o desejo e a necessidade de ouvir. A correria, sem percebermos nos priva das maiores maravilhas que a vida nos oferece, consumindo-nos e nos deixando fadados ao fracasso interior, levando- nos ao materialismo e ao maior desprendimento - a espiritualidade, foco de nossas grandes conquistas.

Desejos... desejos, incalculáveis... desejo de ficar... desejo de partir... desejo de cantar... desejo de sorrir... inúmeros são eles, para muitos, todos inacabados pelo tempo. Para uns, vira rotina realizá-los, para outros, vivem como expectadores da vida real dos que alcançam os seus sonhos.

Dista a alguns metros, um senhor cansado, olhar pensativo, rosto envolvido por nuances que marcam um tempo de muitas buscas e poucas conquistas. Talvez, quem sabe, seria ele detentor de conhecimentos que somente o tempo vivido é capaz de tornar-nos aprendizes de saberes, os tais, incapazes de serem revelados nos acentos de universidades, em divãs de psicanalistas ou, até mesmo, nas pomposas mansões que abrigam os grandes homens. Homens assim, cheios de sabedoria, conquistadas pela própria passagem existencial, sem muitos aparatos ou requisitos, são encobertos pelo véu da indiferença, passam desapercebidos.

Eu o vi de longe, tentei entendê-lo, por alguns instantes, mas ele se foi ao contorno de mais uma curva traçada pela fatal linha de sua passagem existencial.

Encaminhou-se para onde?

Não sei!!!

Mais um sábio perdido na imensidão do tempo!

Eliene César
Enviado por Eliene César em 20/06/2006
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